Parece incrível que um filme com o frescor e a juventude de Conto de Verão tenha sido dirigido por um senhor de 76 anos - idade de Eric Rohmer em 1996. Uma prova de que o olhar não envelhece. Por outro lado, é bem verdade que Conto de verão não faz mais que dar continuidade às digressões e comentários que Rohmer faz sobre a vida cotidiana, sobre as relações humanas, sobre o amor em suas diversas manifestações há mais de 40 anos. E sempre com um estilo e uma abordagem totalmente despretensiosos, na superfície: o veterano cineasta de O Joelho de Claire faz um cinema deliberadamente pequeno, se for possível tirar do adjetivo todo o seu teor negativo.
Talvez por isso mesmo, de todos os diretores da Nouvelle Vague, Rohmer seja aquele que continua mais vivo, livre e interessante. Avesso a modismos, a compromissos ideológicos e a invencionices formais, ele dirige filmes por assim dizer transparentes, que não interpõem nenhum obstáculo entre o espectador e a imagem. O que não o impede de abordar, por trás da aparente espontaneidade dos diálogos e da banalidade das situações, questões importantes sobre a ética da vida comum, sobre os pequenos dilemas do dia-a-dia, as pequenas covardias ou atos de coragem, ou pequenos egoísmos ou atos de generosidade ou desprendimento que fazem cada pessoa ser como é.
Em Conto de Verão, essa aparência de espontaneidade chega ao máximo. Um resumo da história sugere um filme de praia americano, estilo Sessão da Tarde, mas o tratamento - e sobretudo os valores subjacentes à história - são bem outros. Gaspard, um jovem entediado, meio que involuntariamente se vê envolvido com três moças, Lena, Margot e Solene, durante suas férias num balneário. Naturalmente se seguem mal-entendidos, desencontros e incidentes diversos, mas a Rohmer interessa menos o desenrolar dos fatos que, por um lado, as transformações contínuas da paisagem interior do protagonista e, por outro, os mecanismos sutis de manipulação por meio dos quais as três jovens, cada qual à sua maneira, dominam o rapaz.
Conto de Verão é um filme sobre a efemeridade dos sentimentos, sobre a relatividade dos afetos. Acuado pela necessidade de fazer uma escolha, Gaspar aprende que os dramas mais complicados podem ser tão fugazes quanto um dia de sol na praia - aliás cenário ideal e recorrente para a reflexão de Rohmer sobre os jogos amorosos, bastando citar o clássico Pauline na Praia. Ouessant, o destino de uma viagem irrealizada, adquire assim um caráter simbólico: ilha imaginária onde as coisas acontecem como deveriam, e não como são na realidade. Em suma, Conto de Verão é um filme cativante, mais uma pérola da filmografia de um cineasta que não envelhece.
# CONTO DE VERÃO (CONTE D´ÉTE)
França, 1996
Direção e Roteiro: ERIC ROHMER
Produção: MARGARET MENEGOZ E FRANÇOISE ETCHEGARAY
Fotografia: DIANE BARATIER
Montagem: MARY STEPHEN
Música: PHILIPPE EIDEL E SÉBASTIEN ERMS
Elenco: MELVIL POUPAUD, AMANDA LANGLET, GWENAELLE SIMON, AURELIA NOLAND.
Duração: 113 min.