Este filme, dirigido pelo mesmo Steve Beck de Treze Fantasmas, recicla quase todo o material usado em filmes de casas mal-assombradas, com a vantagem de cenário original, como já diz o título. Os clichês visuais são bastante previsíveis. As portas que se abrem ou se fecham sozinhas, os corpos pendurados, o cigarro aceso, num cinzeiro sem uso há 40 anos, a etérea menininha que simpatiza com a personagem feminina. Isso sem falar da cena de "filmeleca", cujo desfecho se adivinha logo que ela se inicia. Há elementos também que pertencem a filmes de horror em geral, como a dúvida de todos entre a cobiça e a prudência, em momentos em que a decisão pode mudar o curso da história.
Há pelo menos três filmes com o mesmo título original, cujo fracasso de crítica e público parece não ter desanimado os produtores deste, acostumados a grandes sucessos, como as trilogias Matrix (Joel Silver) e De Volta para o Futuro (Robert Zemeckis). Um de 1952, um de 1992 e o melhorzinho, de 1943, dirigido por Mark Robson (co-montador de O Cidadão Kane) e produzido pelo quase lendário Val Lewton, que no Brasil se chamou O Fantasma dos Mares.
Mas, parecido com eles, apenas o título original mesmo. O Navio Fantasma (Ghost Ship) de 2002 é sobre uma equipe de resgate marítimo, cujo rebocador, o Arctic Warrior, leva a bordo o Capitão Murphy (Gabriel Byrne, correto como sempre), o contramestre Greer (Isaiah Washington), os técnicos Dodge (Ron Eldard), Munder (Karl Urban) e Santos (Alex Dimitriades) e a chefe de equipe Maureen (Julianna Margulies, do seriado E.R., muito parecida com Mary Elizabeth Mastrantonio que, por acaso, fez personagem semelhante, em Mar em Fúria).
A trágica aventura da equipe é deflagrada com a chegada de Ferriman (Desmond Harrington), piloto da Força Aérea Canadense, que lhes mostra fotos de um navio aparentemente perdido no Estreito de Bering. Depois de alguma hesitação, eles topam a parada. Leis do mar garantem, a quem encontrar, a posse de tudo o que for resgatado em águas internacionais, depois de algum tempo dado como desaparecido. E o que eles encontram é, nada mais nada menos que o Antonia Graza, um grande transatlântico italiano cujo desaparecimento tinha acontecido em 1962.
As melhores seqüências do filme são aquelas em que eles exploram o navio deserto, quando coisas estranhas começam a acontecer. Mas, se o lúgubre visual é captado de forma quase eletrizante pelas câmeras de Gale Tattersall e pelo desenho de produção de Graham Walker, e a interpretação é correta (principalmente a sensível, de Margulies), o roteiro é fraco e nem a pseudo-surpresa das revelações finais diminui a previsibilidade das mortes, que acontecem, como sempre no gênero, na ordem inversa da relação do elenco.
NAVIO FANTASMA (Ghost Ship)
EUA, 2002
Direção: STEVE BECK
Produção: JOEL SILVER, ROBERT ZEMECKIS, GILBERT ADLER
Roteiro: MARK HANLON, JOHN POGUE
Fotografia: GALE TATTERSALL
Montagem: ROGER BARTON
Direção de arte: GRAHAM WALKER
Música: JOHN FRIZZELL
Elenco: JULIANNA MARGULIES, GABRIEL BYRNE, RON ELDARD, DESMOND HARRINGTON, ISAIAH WASHINGTON, ALEX DIMITRIADES, KARL URBAN, EMILY BROWNING
Duração: 91 minutos