Críticas


PLANETA DOS MACACOS: A ORIGEM

De: RYPERT WYATT
Com: JAMES FRANCO, FREIDA PINTO, JOHN LITHGOW
29.08.2011
Por Daniel Schenker
MACACOS EVITAM UM MICO

Não é apenas um caso de referência histórica. O novo “Planeta dos macacos – A origem” (“Rise of the planet of the apes”, no original), de Rypert Wyatt, evoca “O planeta dos macacos”, produção de 1968, assinada por Franklin J. Schaffner e protagonizada por Charlton Heston. Basta assinalar a semelhança invertida de uma cena: no filme realizado há mais de 40 anos, o macaco dominava o homem enjaulado com um jato d’água. Agora, o homem encharca o macaco numa atitude perversa. No primeiro caso, os seres humanos eram vistos como feras pelos símios e condenados a uma espécie de morte em vida ao terem a memória subtraída; no segundo, chimpanzés como Caesar se tornam surpreendentemente inteligentes devido a experiências genéticas que visam à cura do Mal de Alzheimer e são subestimados e maltratados pelos homens.



Schaffner valorizou questões que Wyatt, nesse ambicioso longa-metragem seguinte a “A escapada”, apenas tangencia – como a sensação de deslocamento e inadequação diante de um mundo, de um tempo, no qual o saber adquirido parece não servir mais. Seja como for, o atual “Planeta dos macacos” não perde só na comparação (valendo lembrar que houve quatro continuações, entre 1970 e 1973, a cargo de Ted Post, Don Taylor e J. Lee Thompson, além da combatida versão de Tim Burton, de 2001). Trata-se de um entretenimento munido de qualidades suficientes para prender a atenção do espectador através da exibição de conquistas tecnológicas, sintetizadas em toda a sequência em que os macacos dominam São Francisco (com direito a clímax na ponte Golden Gate), mas que não exercita da melhor maneira a gramática cinematográfica.



Algumas soluções menos espetaculares, como a chuva de folhas que cai sobre as ruas enquanto os macacos transitam pelas copas das árvores, poderiam ter sido mais aproveitadas. De qualquer maneira, o principal problema reside na aposta numa trilha sonora (de Patrick Doyle) onipresente, que apenas evidencia os sucessivos climas emocionais, centrados nas consequências geradas pela ganância nas pesquisas científicas, postura do inescrupuloso Steve Jacobs (David Oyelowo), e, em especial, na intensidade da relação dilacerante entre pai e filho.



O cientista Will Rodman acumula as duas funções. Luta para reverter o quadro de Alzheimer que vitima o pai e adota desde cedo Caesar, tratando de protegê-lo dentro de casa das ameaças do meio externo, deflagradas pelo embate com um vizinho intrometido, personagem que resume uma tentativa não muito feliz de flertar com o humor. Um esforço também perceptível em cenas avulsas, como a da furiosa invasão dos macacos no jardim zoológico no exato instante em que uma guia ressalta como costumam ser dóceis, concebidas para tão-somente extrair graça de situações contrastantes e já conhecidas. Os atores não encontram oportunidades para mostrar interpretações surpreendentes. James Franco está correto, mas pouco expressivo na segunda metade, marcada pela ameaça de Will perder o cada vez mais destemido Caesar – por sua vez, uma criação bastante expressiva, decorrente de acertos do ator Andy Serkis e da produtora de efeitos Weta –, disposto a destronar o homem do posto de comando. O veterano John Lithgow cumpre de modo adequado o papel do pai, Charles, fragilizado. E Freida Pinto, como Caroline, a namorada do protagonista, fica relegada a uma personagem sem qualquer função dramática.



Crítica publicada no jornal O Globo no dia 25/08/2011.

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