Críticas


TRIÂNGULO AMOROSO

De: TOM TWYKER
Com: SOPHIE ROIS, SEBASTIAN SCHIPPER, DEVID STRIESOW
16.12.2011
Por Luiz Fernando Gallego
O TRIÂNGULO E O CÍRCULO

Texto revisto a partir do publicado durante o Festival do Rio 2011



Os filmes mais bem sucedidos de Tom Tykwer, tais como Corra, Lola, Corra (1998), Wintersleepers – Inverno Quente (1997) e Paraíso (2002), trazem o acaso de algo imprevisto como motor da ação. Neste Triângulo Amoroso, cujo título original é apenas o numeral 3, ainda que de forma menos drástica, o acaso (ou mera coincidência) é o fator que vai reunir dois dos personagens centrais a um terceiro no papel de vértice comum.



Tykwer revisita a surrada situação triangular em busca de novas formas de apresentação e desenvolvimento, mesmo que não seja tão inédita a situação – digamos – mais circular do que triangular. Ou seja: A e B se gostam, sendo que A e C mantém uma ligação sexual, assim como... B e C. Afinal, se o filme tem uma “tese”, ela é enunciada explicitamente mais de uma vez: "abandone suas idéias sobre determinismo biológico" - o que implica em que se possa ficar atraído tranquilamente por parceiros de ambos os sexos.



Paralelamente a tantas atrações sexuais, há ameaças de morte por doenças graves, sendo que a mãe de Simon quer doar seu corpo para essa nova forma de arte (?) que expõe corpos humanos conservados e dissecados – o que também implica em abandono de premissas tradicionais sobre o destino que se dá (ou se dava) aos cadáveres na nossa cultura.



Os três personagens centrais têm ligação com formas contemporâneas de arte, seja participando de um coral que se dedica a música nada tradicional (Adam), seja construindo objetos imaginados por escultores (Simon), ou ainda apresentando um programa de TV sobre instalações e performances (Hanna).



Hanna, que vive com Simon uma relação antiga e sexualmente amortecida, não se mostra com duplo interesse sexual (ela não parece ter nenhuma atração por mulheres), mas além de sua atividade na TV também faz parte de um comitê com biólogos que discutem assuntos tão sérios como a bioética no uso de células-tronco, demonstrando uma surpreendente dualidade de interesses.



A atriz Sophie Rois recebeu um importante prêmio por sua interpretação, mas nosso destaque maior seria para Sebastien Schipper como Simon, perplexo com a virada que sua vida vai ter após doença, perda de sua mãe e o encontro com Adam. A mesma premiação destacou Twyker como diretor (e Mathilde Bonnefoy - que edita quase todos os seus filmes).



Devem ter apreciado a tentativa de abandonar premissas da linguagem habitual de comédias (afinal, este filme é o que se pode considerar que seja o humor germânico de boulevard). Por exemplo, ao antecipar o que vai ser visto em uma dança de dois homens e uma mulher, logo no início do filme; ou ao correr o risco de cair no ridículo em duas cenas que abordam a morte da mãe de Simon e seu reaparecimento... como anjo (!)



Se nem tudo é plenamente satisfatório nem agradará a todos os públicos, cabe destacar que o resultado é bem melhor do que os que Twyker obteve em suas incursões imediatamente anteriores, mais bombásticas e frustradas (a versão do romance O Perfume, 2006, e o thriller Trama Internacional, 2009). O boca-a-boca fez este filme ser um dos mais procurados no Festival do Rio 2011, surpreendendo os organizadores da mostra.



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