“Casamentos não mudam”, sentenciam em Um Divã para Dois . Mas Kay (Meryl Streep) não perde a esperança. Tanto que decide reverter o quadro nada estimulante de seu casamento com Arnold (Tommy Lee Jones). Juntos há 31 anos, eles não conversam e nem transam mais. Dormem em quartos separados e convivem como dois estranhos dentro de casa. Parecem confinados numa repetição sem fim, como o estagnado cardápio (resumido à tradicionalíssima combinação de ovos com bacon) do café da manhã dele de todos os dias. Até que ela propõe fazer terapia de casal com o Dr. Bernie (Steve Carell). Ele resiste como pode. A mulher, porém, se mostra contundente em sua determinação.
A julgar por O Diabo veste Prada e Marley & Eu , o diretor David Frankel costuma investir em filmes voltados para a interação direta com o público. Aqui, não é diferente. Entretanto, o cineasta não apela ao manejar o humor. Evita fazer concessões ao riso fácil, superando, assim, a rotina dos entretenimentos descartáveis que desembarcam com constância no circuito. Talvez Kay e Arnold não precisassem ter sido desenhados como símbolos dos padrões mais convencionais de homem (arredio, teimoso) e mulher (emotiva, sensível), ainda que Frankel se valha da caracterização estereotipada para destacar as possibilidades de desconstrução dos personagens.
Em todo caso, o que valoriza essa produção é o elenco. Steve Carell surge adequadamente contido. Meryl Streep volta a se afirmar como uma atriz minuciosa, detalhista. E Tommy Lee Jones está ótimo, especialmente nas cenas em que é levado a assumir suas fantasias sexuais diante de Kay e Bernie. Atuações que compensam eventuais irregularidades, como a insossa sequência final.
Crítica publicada no jornal O Globo em 17/08/2012