Críticas


CONFISSÕES DE SCHMIDT, AS

De: ALEXANDER PAYNE
Com: JACK NICHOLSON, KATHY BATES, HOPE DAVIS, DERMOT MULRONEY
21.03.2003
Por Daniel Schenker
O VAZIO DA FALTA DE INTIMIDADE

Há um vazio (quase?) intransponível que atravessa, de ponta a ponta, As Confissões De Schmidt. Vazio nas relações familiares somado ao vazio da frieza no campo profissional. Warren Schmidt não parece ser poupado durante a projeção. É forçado a se aposentar pela empresa em que trabalha; sua mulher, que vinha lhe causando um estranhamento desconfortável, falece; e a filha, prestes a se casar, externa mágoas antigas. Em meio às sensações de frustração, inutilidade e derrota no terreno pessoal, ele acaba encontrando amparo na distância – mais exatamente, numa correspondência com um órfão africano. A partir daí, passa a se sentir menos sozinho no mundo.



A melancolia invade As Confissões De Schmidt , o que pode causar alguma surpresa em se tratando do irreverente Alexander Payne. De fato, o cineasta (escorado em livro de Louis Begley) toca em pontos extremamente delicados (“Quando eu era menino, acreditava que tinha sido escolhido para ser alguém especial. Mas não foi isto que aconteceu”, conclui Schmidt, logo de cara). Seus outros filmes, porém, não se limitavam ao que aparentavam à primeira vista. Basta dizer que Eleição , apesar de ambientado numa high school, esteve longe de entrar na fila do subgênero teen movie. Há uma percepção fina que une As Confissões De Schmidt aos demais trabalhos de Payne, valendo citar também o espertíssimo Ruth Em Questão , como o retrato de um certo provincianismo americano (mas sem sinais de desprezo, na medida em que o próprio diretor tende sempre a afirmar sua origem – Omaha/Nebraska –, na contracorrente da coqueluche Nova York-Los Angeles) e um olhar impiedoso na revelação do patético.



Projeto amadurecido no decorrer dos anos – quando esteve no Brasil para apresentar Eleição na seleção do então Festival do Rio, Alexander Payne já cogitava a realização deste filme e mais a adaptação cinematográfica de O Quarto Fechado , novela de Paul Auster –, As Confissões De Schmidt dá provas de um esforço honroso em buscar um certo distanciamento de um registro habitual para mergulhar na dor (ainda que sem atingir o grau de sofrimento bruto dos personagens de Pedro Almodóvar em A Flor Do Meu Segredo ), ao mesmo tempo em que reafirma a eficiência do cineasta na desconstrução do estabelecido. Mais do que isto: Payne não só demole o discurso politicamente correto como utiliza-o, aqui, como espelho do abismo que se formou entre pessoas próximas, como sinal concreto de uma ausência de intimidade difícil de ser remediada. Candidatos ao Oscar, Jack Nicholson (ator) e Kathy Bates (atriz coadjuvante) podem ser responsabilizados por doses de exagero mas são trunfos inegáveis.



# AS CONFISSÕES DE SCHMIDT (ABOUT SCHMIDT)

EUA, 2002

Direção: ALEXANDER PAYNE

Roteiro: ALEXANDER PAYNE E JIM TAYLOR

Produção: MICHAEL BESMAN E HARRY GITTES

Música: ROLFE KENT

Fotografia: JAMES GLENNON

Elenco: JACK NICHOLSON, KATHY BATES, HOPE DAVIS, DERMOT MULRONEY

Duração: 125 minutos

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