Críticas


8 MILE – RUA DAS ILUSÕES

De: CURTIS HANSON
Com: EMINEM, KIM BASINGER, MEKHI PHIFER, BRITANY MURPHY
21.03.2003
Por Marcelo Janot
COLOCANDO O BRANCO NO PRETO

Uma das boas coisas de 8 Mile – Rua das Ilusões é que, graças ao eficiente trabalho de tradução, finalmente dá pra entender o que Eminem está cantando. Até então, salvo por alguns programas de clipes legendados nas TVs a cabo, os brasileiros ficavam boiando naquele blá-blá-blá do rapper. Musicalmente limitado (mesmo para os padrões do hip hop) e com uma voz irritante, era difícil entender porque Eminem causava tanto furor nos EUA. Agora finalmente percebe-se com mais clareza que o seu sucesso não se deve exclusivamente a sua metralhadora giratória politicamente incorreta.



O filme ajuda a perceber que Eminem possui carisma e um estilo próprio na hora de mandar as rimas, o que explica também o fato de ser um branco tão respeitado na comunidade quase exclusivamente negra do hip hop, ao invés de ser encarado como mais um Vanilla Ice (rapper branco que surgiu na década de 80 com o sucesso Ice Ice Baby e depois desapareceu como um produto descartável fabricado pela indústria fonográfica). A história contada em 8 Mile não é exatamente a de Eminem, mas isso pouco importa. Ele está tão à vontade no papel que fica difícil acreditar que fora dali ele não tenha se tornado um bom moço.



Dirigido com competência por Curtis Hanson (de Los Angeles, Cidade Proibida), que consegue captar a atmosfera cinzenta e decadente de Detroit integrando-a bem à narrativa, além do bom uso da câmera nas cenas dos duelos musicais, o filme tem um certo ar de déja-vu. Remete a dramas empíricos que eram feitos nos anos 70-80, como Rocky ou Flashdance, tanto na parte estética, que não tem linguagem de videoclipe como a maioria dos filmes moderninhos de hoje, quanto no tema: um personagem do proletariado que sonha com a ascensão através do reconhecimento de uma habilidade específica (no caso de Rocky, o boxe, no de Flashdance, a dança), e no meio do caminho tem que enfrentar também conflitos familiares e amorosos. É exatamente a mesma fórmula, adaptada para os tempos do hip hop, e nisso o roteiro se revela extremamente preguiçoso, já que toda hora está escorregando nos clichês.



Mas há um bom atrativo sociológico no filme. A julgar pelo comportamento das gangues rivais de hip hop, a barra em Detroit é muito menos pesada que em Nova York, Los Angeles ou São Paulo, por exemplo. Em primeiro lugar, porque a questão das drogas está totalmente ausente de 8 Mile, e a violência parece bem mais mansa do que nas outras cidades. Se não é verdade, a culpa é do olhar documental que Hanson imprime a seu filme. Além disso, é curioso ver o esforço de um branco para tentar se inserir na comunidade negra, subvertendo o preconceito histórico.



É possível também encarar 8 Mile – Rua das Ilusões simplesmente como uma boa diversão para quem curte hip hop, já que os momentos dos duelos de rimas (que lembram os nossos repentistas) – as chamadas “batalhas” nos clubes locais – são o ponto alto do filme, com divertidas referências a ícones do movimento nas letras improvisadas dos rappers.



# 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES (8 MILE)

EUA, 2002

Direção: CURTIS HANSON

Roteiro: SCOTT SILVER

Produção: BRIAN GRAZER, CURTIS HANSON E JIMMY IOVINE

Fotografia: RODRIGO PRIETO

Montagem: JAY RABINOWITZ E CRAIG KITSON

Música: EMINEM

Elenco: EMINEM, KIM BASINGER, MEKHI PHIFER, BRITANY MURPHY, EVAN JONES

Duração: 111 min.

site: www.8-mile.com

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