Depois do sucesso em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, As Confissões de Schmidt (About Schmidt), de Alexander Payne, foi indicado para o Globo de Ouro de melhor filme e Jack Nicholson para ator. Como acontece todo ano, essas escolhas costumam funcionar como uma prévia de indicação para o Oscar. Nicholson acabou indicado, mas perdeu a estatueta para Adrien Brody, de O Pianista.
Em As Confissões de Schmidt, ele é a alma do filme : com grande sensibilidade, constrói o personagem-título Warren Schmidt, um homem entrando na velhice e na busca de um novo significado para a vida. O filme começa numa festa organizada pelos colegas de Schmidt. Executivo de uma grande empresa de seguros do conservador meio-oeste americano, ele está se aposentando aos 66 anos. Depois de deixar o emprego e após a morte repentina da mulher, por quem já não tinha quase nenhuma afeição, ele entra em crise existencial.
Na viagem que faz no seu caminhão trailer – na verdade uma jornada em busca do auto conhecimento – o aposentado se vê obrigado a encarar a mediocridade que foi a sua vida. As Confissões de Schmidt, também escolhido melhor filme do ano pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, abriu o Festival de Nova York realizado em setembro último. Após a sessão prévia para a crítica, Nicholson, sob muitos aplausos, subiu ao palco com Payne e a atriz Kathy Bates. “Esse foi um dos papéis mais difíceis e talvez o mais deprimente em toda a minha carreira”, disse o ator de personagens memoráveis como o Randle de Um Estranho no Ninho, o Jack de O Iluminado e o Francis de Ironweed.
De fato, em As Confissões de Schmidt ele faz um papel totalmente desprovido de glamour na pele de um personagem pouco atraente tanto física quanto moralmente. Schmidt é gordo, disfarça a calvície com um penteado ridículo e vive criticando os outros. “Durante as filmagens tive até dificuldades para me olhar no espelho, pois parecia que jamais voltaria a ser eu mesmo”, reclamou o ator, ressalvando: “mas se a visão de Payne para o meu personagem pode ser dura, ela não é cruel; existem muitos Schmidts por aí”.
Nicholson provavelmente tem razão quando diz que há muitos Schmidts no mundo e o próprio cinema já explorou o tema em vários filmes – Harry e Tonto, de Paul Mazursky, é um exemplo – mas este se diferencia pelo tom de tragicomédia incorporado ao personagem, numa perfeita mistura de drama com situações de humor conseguida com a atuação na dose certa de Nicholson. No elenco está também Kathy Bates, ótima como sempre mesmo em um papel pequeno interpretando Roberta Hertzel, mãe do rapaz que namora a filha de Schmidt, vivida por Hope Davis. A atriz provocou risos ao dizer que a sua cena de nudez (ela tira a roupa para entrar numa banheira de hidromassagem onde Nicholson estava) foi uma condição imposta por ela para trabalhar ao lado de Nicholson: ”quem sabe assim eu o seduziria”, brincou.
Payne, que já esteve no Brasil por ocasião do lançamento de Ruth em Questão, contou que a vontade de fazer As Confissões de Schmidt é um projeto antigo. “Comecei a escrever um roteiro sobre o assunto há mais de dez anos, quando me deparei com o livro de Louis Begley. A New Line comprou os direitos já pensando em Nicholson para o papel principal e me convidou para dirigir o filme. Eu topei de imediato e ele também”, disse.
O filme é narrado através de uma série de cartas que Schmidt escreve para um menino negro de seis anos que ele “apadrinhou” e que vive na Tanzânia, do outro lado do mundo. Nas cartas, ele partilha sua tristeza, suas descobertas e , ao mesmo tempo, traça uma visão patética da classe média do oeste americano. Schmidt é o retrato de um homem triste e amargurado: numa das suas descobertas, fica sabendo que sua mulher o traiu com seu melhor amigo. Em outro momento tocante , manifesta o seu estado de espírito: “a vida é muito curta, não posso me permitir desperdiçar nenhum minuto do que resta”, constata.
Payne, conhecido como um diretor que não faz muitas concessões aos seus atores, fez muitos elogios ao trabalho de Nicholson: “ele fez tudo que eu pedi, o que tornou as coisas muito mais fáceis para mim”, reconheceu. Ao final, Nicholson disse que gostou muito de fazer o filme: “atrás de situações às vezes até cômicas, é um drama terrível e tem uma mensagem profunda”, afirmou o ator, que atuará em Anger Management, de Peter Segal, no qual interpreta Buddy Rydell e contracena com Adam Sandler e Marisa Tomei.