Críticas


SAMSARA

De: PAN NALIN
Com: SHAWN KU, CHRISTY CHUNG, NEELESHA BAVORA, KELSANG TASHI
10.04.2003
Por Maria Silvia Camargo
NOSSOS MIL DESEJOS

Há filmes que, captando algo do inconsciente coletivo, surgem na hora certa. Samsara é um deles. São 140 minutos da trajetória espiritual de um homem dividido entre os desafios da alma e os prazeres do corpo. O público do Festival do Rio, onde foi exibido no ano passado, o assistiu impassível, sem dar um pio. E, ao final, o aplaudiu de pé. O filme nos traz mensagens espirituais, mas nada muito hermético. O hindu Pan Nalin é um cineasta auto-didata, acostumado a fazer documentários sobre lugares exóticos para os canais de TV estrangeiros. Então, neste seu primeiro longa de ficção, soube dosar bem uma narrativa lenta e um final em aberto com coisas que fascinam nosso cansados olhos ocidentais. Grande parte do filme se sustenta, então, no espetacular. As paisagens do Himalaia são estranhas e exuberantes. Mostram-se hábitos, vestimentas e costumes – até mesmo sexuais – desconhecidos para nós. E enquanto toda esta beleza desfila na tela, Pan Nalin fala da busca pela satisfação – aquela mesma que os Stones cantavam.



Tashi é um monge budista que, mesmo depois de passar três anos meditando em uma caverna, não consegue ter paz. Ele volta ao mosteiro, recebe honrarias pelo seu feito espiritual, mas começa a ter estranhos sonhos carnais. Num vale perto dali vive o outro lado da moeda: a bela Pema não renunciou a nenhum dos prazeres mundanos e, talvez por isto mesmo, se sinta satisfeita. Um dia os dois se encontram, claro, e se apaixonam. Tashi questiona então seu mestre, o espertíssimo Apo (melhor personagem em cena): “ ‘Como posso ter renunciado ao mundo se não o conheço? Estou neste mosteiro desde os cinco anos de idade!’. Apo responde: ‘O que é mais importante, satisfazer mil desejos ou conquistar apenas um?’” .



A resposta demora um pouco a chegar. No filme, porque Pan Nalin faz questão de mostrar que, mesmo vivendo num extremo de mundo, numa civilização em que, se uma cabra morre, todos choram - pois a cabra é um espírito reencarnado - Tashi e Pema têm os mesmos problemas que o resto de nós, seja para ganhar dinheiro ou se ajustar ao casamento. Na vida real, porque as dúvidas que atormentam Tashi são as mais comuns dúvidas mundanas - e, bem, cada um as responde à sua maneira.



Neste aspecto, além de Apo, é Pema quem tem a melhor das respostas. Por três vezes ou quatro vezes, num roteiro que prima pela simplicidade e evita os cansativos jogos de palavras, os dois personagens acima travam diálogos brilhantes – e totalmente compreensíveis – com Tashi. O de Pema, ao final do filme, merece ser visto e revisto. É um resumo da condição homem/mulher. Samsara é um filme que não se esquece com facilidade. Principalmente porque cada um tira dele a conclusão que quiser.



P. S. – Samsara quer dizer “o aspecto mutável, fragmentado e, por isto mesmo, ilusório, do mundo material”.





# SAMSARA (THE SAMSARA)

Alemanha/Índia, 2001

Direção: PAN NALIN

Roteiro: TIM BAKER, PAN NALIN

Produção: KARL BAUMGARTNER, CHRISTOPH FRIEDEL

Fotografia: RALI RALTSCHEV

Montagem: ISABEL MEIER

Música: CYRIL MORIN

Elenco: SHAWN KU, CHRISTY CHUNG, NEELESHA BAVORA, KELSANG TASHI, JAMAYANG JINPA.

Duração: 140min.

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