Críticas


DEIXE-ME VIVER

De: PETER KOSMINSKY
Com: ALLISON LOHMAN, MICHELLE PFEIFFER, RENÉE ZELLWEGER, ROBIN WRIGHT PENN
02.08.2003
Por João Mattos
QUATRO LOURAS QUE CATIVAM

Deixe-me Viver, do diretor estreante em cinema (trabalha na TV) Peter Kosminsky, é um genuíno dramalhão. Explica-se o termo, que a muitos pode parecer injusto depois de conferido o filme, já que ele nada tem de histérico, derramado, o que para muita gente, sim, é aquilo que faria dele um dramalhão. Dramalhão é o falso melodrama, ou melodrama envergonhado, acanhado (em geral involuntário), que conserva algumas características do melô (que bem-feito, gera criações geniais), como o acúmulo de grande quantidade de fatos dramáticos muito fortes e tratamento claro e enfático dos conflitos morais com a finalidade de afetar com força a platéia. Deixe-me Viver mostra o difícil amadurecimento de uma adolescente, Astrid (Alison Lohman), filha de Ingrid (Michelle Pfeiffer), uma artista plástica presa pelo assassinato (envenenamento) de um caso, e com a qual a menina mantém esporádicos contatos em visitas à prisão enquanto roda por três casas adotivas com três mães adotivas diferentes (duas delas feitas por Robin Wright Penn e René Zellweger).



Com tal argumento este filme poderia gerar um melodrama ao pé da letra ou um drama discreto, mas com a contundência dos conflitos sendo bem tratada. Com sua opção pelo discreto, por uma forma e um tom meio tímidos, para falar a verdade titubeantes, é diluída a força de choque das coisas muito tristes que acontecem com a pobre Astrid, o que até poderia ser bom, só que pela fragilidade dramática da discrição adotada, acaba sendo ressaltado o que há de óbvio em sua mensagem de libertação existencial, de tomar conta do próprio destino. Logo não temos nem um melodrama, nem um bom drama discreto, temos um dramalhão, isto é fortes conflitos narrados com uma solenidade pomposa dispensável e nada arguta.



Em Deixe-me Viver suportamos a série de tristezas que se abatem sobre a garota, acompanhadas de uma sem número de frases feitas que chateiam com sua explicitez sem pujança, seu didatismo mal articulado, uma discussão moral que nunca consegue ser realmente merecedora de atenção. Em bom português, haja saco para aguentar o nhém-nhém-nhém enervante de Dona Ingrid, bem como do filme como um todo, com seu discurso fácil, crítica social e religiosa cômoda em sua superficialidade, a repetição (de tantos filmes) de uma martirização-clichê do impulso da manifestação artística, as metáforas e subtextos banais (que explicam o título original, White Oleander, a flor que pode ter sido usada no envenenamento), tudo conduzido por uma câmera que traz alguns planos bonitos, só que sem brilho nenhum ou função dramática mais relevante.



Um pouco a favor do filme, há o fato de que o lado mais policialesco da trama básica é deixado de lado. E muito a favor do filme, temos os excelentes desempenhos das quatro atrizes principais, todas valorizando e tornando mais complexos seus papéis do que propriamente, e como deveria ser, os diálogos e situações dramáticas em que os mesmos aparecem, embora deva ser assinalado que todas já tiveram atuações melhores – claro, em filmes mais bem estruturados que este aqui.



Michelle Pefeiffer, dona de uma beleza com ar meio trágico e uma atriz quase sempre mal aproveitada (basta lembrar de seu estupendo desempenho em Ligações Perigosas), torna Ingrid mais palpável e um pouco mais crível; Renée Zellweger prova de novo que compõe bem e valoriza papéis por vezes esquemáticos (como fizera em , que tinha intenção clara de ser uma sátira, o que não é o caso aqui); a garota Alison Lohman passa sem exagero e com sinceridade a perturbação de Astrid. Mas o destaque mesmo vai para Robin Wright Penn, num papel que tinha tudo para ser interessante e complexo, o da primeira mãe adotiva de Astrid, Starr, uma ex-stripper peruona que tenta emplacar uma vida religiosa como uma neo-carola. Este era um papel que merecia, mais que todos os demais, boas cenas e boas falas, o que não ocorre, porém Robin se encarrega de tirar o máximo dele, em especial no momento em que confronta Astrid sobre um suposto clima que estaria rolando entre a moça e o pai adotivo/marido de Starr. Robin é mulher de Sean Penn, mas ainda não teve papéis tão bons como os de Sean para brilhar, mas em filmes como Forrest Gump e sobretudo Louco de Amor (formando uma dupla marcante com o maridão), provou do que é capaz.



# DEIXE-ME VIVER (WHITE OLEANDER)

EUA, 2002

Direção: PETER KOSMINSKY

Roteiro: MARY AGNES DONOGHUE

Produção: HUNT LOWRY, JOHN WELLS, STACY COHEN.

Fotografia: ELLIOT DAVIS

Montagem: CHRIS RIDSDALE.

Música: THOMAS NEWMAN

Elenco: ALLISON LOHMAN, MICHELLE PFEIFFER, RENÉE ZELLWEGER, ROBIN WRIGHT PENN, PATRICK FUGIT, COLE HAUSER, BILLY CONOLLY, SVETLANA EFREMOVA.

Duração: 109 min

site: www. http://whiteoleander.warnerbros.com/

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