Críticas


SOMOS TÃO JOVENS

De: ANTÔNIO CARLOS DA FONTOURA
Com: THIAGO MENDONÇA, BRUNO TORRES, LAILA ZAID
03.05.2013
Por Marcelo Janot
Feito na medida para os novos fãs de Renato Russo, evita o risco ancorando no porto seguro das biografias.

A responsabilidade de se criticar um filme sobre Renato Russo é equivalente à de se realizar um filme sobre Renato Russo. Estamos falando não apenas daquele que talvez seja visto por muitos como o ícone máximo de uma fase ainda recente do rock brasileiro, mas de alguém cujo discurso ainda ecoa de forma avassaladora e quase messiânica, sobretudo nos corações e mentes dos que ainda estavam nascendo quando ele morreu, em 1996. Para essa geração, as letras das músicas da Legião Urbana, ao mesmo tempo em que trazem receitas prontas para suavizar um "mundo que anda tão complicado", são um convite à constatação de que a "sujeira pra todo lado" de "Que país é esse?" e as mazelas listadas por Renato na letra da irônica "Perfeição" continuam as mesmas.

Há uma razão forte para que o título do filme seja "Somos tão jovens" e não "Éramos tão jovens". O tempo presente parece necessário quando se percebe que o diretor Antônio Carlos da Fontoura e o roteirista Marcos Bernstein miram justamente na identificação entre o Renato Russo jovem, em seu período de formação, e os novos fãs.

Se pensarmos que a proposta é mostrar como Renato Manfredini Junior se transformou em Renato Russo antes de alcançar sucesso nacional com a Legião Urbana, o filme é bem sucedido, pelo menos em parte. A trajetória de professor de inglês precoce a cantor de rock é mostrada de forma clara e didática, sem atropelos ou ousadias formais. Por vezes a impressão é a de que estamos diante de um episódio de Malhação, onde as aventuras juvenis são intercaladas com lições de moral e pinceladas educacionais. Através de uma dramaturgia pouco elaborada, que recorre a recursos fáceis para identificar as situações vividas pelo personagem com os nomes de suas futuras músicas ("tédio com um T" quando está enfermo, "festa estranha com gente esquisita" ao adentrar uma festa), a garotada vai aprender como era a cultura do "sabe com quem está falando" na Brasília governada pelos militares e a dificuldade de expressar seus dilemas sexuais para pais conservadores. Os pais são tão caricaturais que dá até pena ver Sandra Corveloni, vencedora do prêmio de melhor atriz em Cannes por "Linha de passe", desperdiçada desse jeito.

Por outro lado, relembra-se como o punk rock inglês desembarcou em Brasília e influenciou um grupo de músicos que em poucos anos renovaria o rock brasileiro. O processo de surgimento do lendário Aborto Elétrico e do embrião da Legião é um alento para o público um pouco mais velho, que conheceu o cabelo moicano antes que ele fosse banalizado por jogadores de futebol. O ator Thiago Mendonça de início fica preso aos cacoetes de Renato Russo, mas depois se mostra mais relaxado e atinge o tom perfeito, ajudado pelo ótimo desempenho de Bruno Torres como seu companheiro de banda e antagonista Fê Lemos.

Musicalmente o filme é bem envolvente, com os atores tocando de verdade. Mas se estamos falando também de comportamento, fica-se com a impressão de que a maneira encontrada pela direção para retratar o que seria uma "atitude punk" se resume a tremer a câmera. Diretor de obras-primas do cinema nacional dos anos 60 e 70 como "Rainha Diaba" e "Copacabana me engana", Fontoura deixou a opção pela ousadia no passado. "Somos tão jovens" não questiona, apenas ancora no porto seguro das biografias, sem correr risco de arranhar a idolatria dos fãs juvenis.

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Outros comentários
    428
  • Robson
    07.05.2013 às 15:04

    Crítica muito educada e tão superficial quanto o próprio filme. Achei o filme uma porcaria. Péssimo roteiro, péssima direção.
  • 432
  • WILLIAM REZENDE
    12.05.2013 às 13:14

    Gostei da crítica. Espero que eu goste do filme e espero que possa ser uma boa aposta pro oscar.
  • 456
  • Joseph Cartaxo
    22.05.2013 às 07:16

    O comentário da Georgia foi preciso.O filme é muito ruim. Para quem é de Brasília e conhece a fundo a história do grande Renato Russo e da lendária Legião Urbana esse filme chega a ser um insulto. Mal montado, desconexo, infantil e com diálogos esquisofrênicos o filme tende a ser o mico do ano. Essa banda, lenda do rock nacional, não merecia um filme tão medíocre. Amador !