Críticas


ENCURRALADA

De: LUIS MANDOKI
Com: CHARLIZE THERON, KEVIN BACON, STUART TOWSEND, COURTNEY LOVE
15.08.2003
Por João Mattos
MANDOKI MUDA MAS CONTINUA O MESMO

Encurralada, monumental e merecidíssimo fiasco mundial de público e crítica, parece que não encontrará sua redenção no Brasil – difícil crer que o público fará desse filme um sucesso. Também parece impossível que um filme supere Corridas Clandestinas como pior exibido este ano em nosso país, mas Encurralada merece dois galardões: o de um dos cinco piores de 2003 e de momento mais estúpido do ano.



O filme traz o diretor Luis Mandoki trafegando em gênero novo para ele, o suspense. Mandoki conseguiu um grande sucesso com Gaby, Uma História Verdadeira (87, sobre uma moça com paralisia cerebral), fez depois o corretinho Loucos de Paixão (90), mas seus últimos três filmes (Quando um Homem Ama uma Mulher, Mensagem Para Você e Olhos de Anjo), são todos coerentementes fracos e medíocres (exceção para uns 5 minutos de Olhos) ao falar de relações familiares.



Família também é o tema de Encurralada que tem três núcleos de dois personagens cada, envolvidos na trama do seqüestro de uma menininha filha de um jovem casal. Um deles traz a garotinha (a ótima Dakota Fanning, de Uma Lição de Amor) e um dos seqüestradores (Pruitt Taylor Vince, de Paixão Muda, ator quase sempre mal aproveitado), no cativeiro; o outro, o pai da garota, um médico (Stuart Towsend) e outra sequestradora (a roqueira bagaceira Courtney Love, boa atriz) num quarto de hotel; e o principal, o cerne do filme, tem o chefe do bando (Kevin Bacon) e a mãe da guria, ambos num duelo físico e mental na casa da família, local de onde o cara comanda a operação, exigindo grana em 24 horas para que a guria não seja morta.



Trama bem básica de filme de suspense, como se nota. E como em um bom filme de suspense, cabe a tentativa de ampliar o leque de possibilidades dramáticas da obra para além das convenções primordiais do gênero, que a de mexer com os brios da platéia. Daí surgem ao longo da história, toques de crítica social, patologias sexuais, luta de classes, etc, que falham miseravelmente por culpa das opções de dramaturgia e da própria encenação. Um exemplo da primeira coisa é o tal momento mais ridículo do filme (e do ano), quando o personagem de Towsend pronuncia um Então foi por isso que vocês nos escolheram ..., cheio de enfado, que é o cúmulo da redundância frente ao que já tinha rolado na cena e só aumenta o patético da situação dramática – mas ele e Charlize devem ser os únicos satisfeitos por terem feito o filme, já que começaram a namorar depois dele.



No quesito narrativo puro, a pouca tensão de Encurralada surge da própria incompetência de Mandoki, e não é por falta de bons auxiliares que ele não consegue criar uma boa atmosfera física de suspense. O filme começou a ser fotografado pelo polonês Piotr Sobocinski (de A Fraternidade É Vermelha), a quem o filme é dedicado, e que depois de morto foi substituído por Fred Elmes (parceiro do diretor David Lynch na criação das imagens inesquecíveis de Veludo Azul). Nem se trata de pedir alguma coisa nova, uma invenção formal, e sim o mínimo de tensão e força pela métrica comum do suspense mesmo, o que o diretor não consegue com sua câmera preguiçosa e cenas decupadas sem brilho nenhum.



Em suspense, quando não há tensão nem boas idéias, é aí que se acumulam as questões a respeito de verossimilhança. E em Encurralada, há pencas de perguntas sem solução (Como o e-mail foi enviado? E o surgimento do FBI? Os outros seqüestros foram ensaios?, entre outras) que incomodam, mas talvez não incomodassem se a fita tivesse um mínimo de pujança. Sobre a dupla central na trama, valem algumas observações. Kevin Bacon nunca foi um grande ator, porém é um vilão eficiente (em obras como Rio Selvagem), embora fique só na casca, na vestimenta do vilanesco. Já Charlize Theron, que tem enorme média de trabalhos feitos e/ou lançados (mais de uma dúzia de filmes de 99 pra cá), demonstra mais uma vez ter algum talento, uma angústia ainda não bem organizada. Precisa de um grande papel e de um diretor que burile junto com ela suas possibilidades dramáticas, para que as mesmas sejam realmente testadas.



# ENCURRALADA (TRAPPED)

EUA, 2002

Direção: LUIS MANDOKI

Roteiro: GREG ILES

Produção: MIMI POLK, CHRISTOPHER BORGMANN

Fotografia: PIOTR SOBOCINSKI E FRED ELMES

Montagem: JERRI GREENBERG

Música: JOHN OTTMAN

Elenco: CHARLIZE THERON, KEVIN BACON, STUART TOWSEND, COURTNEY LOVE, DAKOTA FANNING, PRUITT TAYLOR VINCE.

Duração: 105 min.

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