Há momentos em A Estranha Família de Igby que sugerem tratar-se de um filme mais profundo do que parece. Por exemplo, quando o protagonista descreve seu padrinho, o próspero e bem-sucedido D.H. Banes (Jeff Goldblum) como alguém que tenta se comportar como as pessoas felizes se comportam, mas que no fundo não é feliz. Comentário que reforça a mensagem do filme, de rebeldia e resistência a qualquer tipo de enquadramento, um pouco no clima de O Apanhador no Campo de Centeio. Esse espírito de contestação seria aliás de se esperar da equipe que faz o filme, politicamente ligada a Tim Robbins e remando na contracorrente das produções hollywoodianas e dos valores republicanos.
O problema é que os momentos verdadeiramente inteligentes são escassos no filme. Após os primeiros dez minutos, o personagem do adolescente rebelde em permanente conflito com a família já mostrou todas as cartas. E Igby se torna redundante, à medida que o temperamento do personagem-título é explicado pelas circunstâncias familiares – pai esquizofrênico, mãe dominadora e egoísta, irmão reacionário etc, tornando-o um rebelde com excesso de causas.
A Estranha Família de Igby também padece de uma certa indefinição de gênero. Não é engraçado como comédia, nem quando apela para o humor negro; e é tímido quando envereda pelo drama. Era para ser um "filme de formação", mas também por este prisma deixa a desejar, já que as aventuras vividas por Igby em sua jornada de iniciação e amadurecimento são bastante tolas e previsíveis, e os personagens que ele encontra pelo caminho são caricatos e inverossímeis, psicologicamente inconsistentes, ou smplesmente desinteressantes.
Outro agravante é que o protagonista, em parte devido á interpretação enjoada de Kieran (irmão de Macauley) Culkin, chega ao final do filme com a mesma expressão de tédio do início, como se a sua viagem de autodescoberta não tivesse surtido efeito algum. Num filme que depende muito do grau de empatia dos personagens, a chatice "aborrecente" de Igby é uma falha que compromete. Ou seja, trata-se de mais um exemplo de que o rótulo "independente" não é garantia de qualidade. Há filmes independentes bons e ruins; A Estranha Família de Igby, apesar de bem intencionado, se encaixa na segunda categoria.
# A ESTRANHA FAMÍLIA DE IGBY (IGBY GOES DOWN)
EUA, 2002
Direção e roteiro: BURR STEERS
Produção: MARCO WEBER E LISA TORNELL
Fotografia: WEDIGO VON SCHULTZENDORFFS
Elenco: KIERAN CULKIN, CLAIRE DANES, JEFF GOLDBLUM, SUSAN SARANDON, BILL PULLMAN, AMANDA PEET
Duração: 99 min.
