Críticas


AGORA OU NUNCA

De: MIKE LEIGH
Com: TIMOTHY SPALL, LESLEY MANVILLE, ALISON GARLAND, JAMES CORDEN
28.08.2003
Por Luciano Trigo
CINEMA PARA ADULTOS

Agora ou Nunca tem um forte parentesco com o filme mais bem-sucedido de Mike Leigh, Segredos e Mentiras, em vários sentidos. A começar pela presença do ator Timothy Spall, mais do que talhado para o papel do motorista de táxi Phil, um conformista esmagado por uma rotina medíocre e pela própria falta de talento e iniciativa. Também pela estrutura do roteiro, que entrelaça lentamente pequenos dramas de diversos pessoas comuns, sem grandes qualidades. Mas sobretudo porque, num e noutro filme, os personagens entorpecidos pela dureza do dia-a-dia são sacudidos do marasmo existencial por um acontecimento inesperado, que os força a se confrontarem com os equívocos de suas existências.



O acontecimento inesperado em questão é um ataque cardíaco do filho do taxista, obeso e preguiçoso como o pai, rebelde e estúpido como o namorado de sua vizinha, sem perspectivas como todos à sua volta. A pequena tragédia familiar se transforma em oportunidade para que sua mãe, Penny, uma caixa de supermercado, modifique a relação com o marido. Leigh não faz nenhuma concessão ao espectador: Agora ou Nunca, seu vigésimo-quinto filme, é melancólico e pesado do início ao fim, sem um minuto de refresco. A narrativa é deliberadamente lenta, a ponto de provocar no espectador um efeito de asfixia. Como se vê, não se trata de um filme de entretenimento.



Os personagens secundários são ainda mais deprimentes: um casal de alcoólatras com uma filha vulgaróide, uma mãe solteira às voltas com a gravidez da filha. O cenário, um bairro da periferia de Londres, é igualmente opressivo. E no entanto trata-se de um dos melhores filmes da temporada. Como outros cineastas ingleses de sua geração, começando por Ken Loach (mas sem o seu comprometimento político), Leigh tem uma sensibilidade extrema para captar com sinceridade e impacto as desventuras das classes baixas, a intimidade de pessoas à beira da marginalidade, acostumadas a empurrar a vida com a barriga. É cinema de cunho social, mas não-panfletário, trabalhando as emoções do espectador na medida certa.



Agora ou Nunca é um filme sobre a dinâmica dos afetos na estrutura familiar, sobre as atitudes que tomamos diante dos obstáculos, sobre o acaso e a necessidade de assumirmos o controle de nossos destinos em momentos cruciais da vida. A radiografia crítica da sociedade contemporânea que a história enseja não se aplica somente à periferia de Londres, mas ao mundo todo. Leigh não retrata os seus personagens como vítimas, já que eles próprios são em grande parte responsáveis pela situação opressiva em que vivem. E, em meio a tanta desesperança, a mensagem de Agora ou Nunca é de otimismo, de crença na capacidade de superação. Cinema para adultos.



# AGORA OU NUNCA (ALL OR NOTHING)

INGLATERRA, 2002

Direção e roteiro: MIKE LEIGH

Produção: SIMON CHANING WILLIAMS

Fotografia: DICK POPE

Elenco: TIMOTHY SPALL, LESLEY MANVILLE, ALISON GARLAND, JAMES CORDEN, RUTH SHEEN, MARION BAILEY

Duração: 128 min.

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