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PORNOGRAFIA E MASTURBAÇÃO

De: Joseph Gordon-Levitt
Com: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore
19.12.2013
Por Luiz Fernando Gallego
Gordon-Levitt mexe com assuntos-tabu em "Don Jon" sem impor teses ou respostas prontas

Estreando na direção em Como não perder essa mulher (lamentável título brasileiro), sendo também autor do roteiro, Joseph Gordon-Levitt toca em assuntos-tabu relativos à sexualidade masculina tais como: grande interesse em pornografia e em masturbação. Não é considerado de bom tom mencionar o que o filme escancara e que é visto como coisa de quem não tem competência para uma vida sexual “saudável” (leia-se: sendo um bom “pegador”). Só que ‘Jon’, o personagem central interpretado pelo próprio Gordon-Levitt, é um "Don Juan" (e daí o paródico título original, Don Jon) muito bem sucedido - se o padrão for o de um senhor “galinha”. Mas ele não abre mão (literalmente) de seu prazer solitário enquanto assiste vídeos pornôs no laptop com toda uma técnica de excitação e “compartilhamento” com o gozo mostrado na telinha.

O diretor-roteirista não faz questão de criar um tipo simpático para ele mesmo interpretar - especialmente para a plateia feminina que tende a considerar o personagem um “tarado” ou – em linguagem mais psicanalítica – um “perverso” na categoria de voyeur - que, sem dúvida, ele é. Mas quem não é? Um pouco que seja nesses tempos de predomínio de - e privilégio dado a - tudo que for "imagem". E por mais sublimados que sejamos: especialmente os cinéfilos, é claro.

A patologização de todo e qualquer comportamento por parte da psiquiatria dominante nos cardápios-códigos de "doenças mentais" pode levar a que se catalogue 'Don Jon' como um sex-addict carente de tratamento e de normatização. Assim como uma certa psicanálise já cunhou que o Don Juan original seria um homossexual latente inseguro de sua masculinidade e que, por isso, precisa comprovar que é macho em conquistas incessantes. Terá sido coisa de um “psi” meio invejoso do sucesso desses – hoje chamados de ‘galinhas’ – conquistadores? Afinal, a diversidade e singularidade dos comportamentos humanos não cabem em “explicações” reducionistas e muito menos únicas: haverá o tipo descrito, inseguro fazendo de conta que não é, mas dizer que todo garanhão de plantão é apenas e simplesmente e sempre isso...

Mas o ator-diretor não pretende fazer um filme de tese nem muito menos dar respostas: sua maior qualidade é expor o que muito raramente bate nas telas e dar oportunidade a que algumas senhoras cinéfilas pensem este filme como “quase pornô”, talvez por estarem entrando em contato - geralmente ocultado - com possibilidades de expressão da sexualidade masculina, possibilidades essas que elas nunca julgaram que existissem e que ainda continuarão achando pouco plausíveis: caso isolado de um pobre coitado que seria “doente”.

Mas se fosse possível uma enquete com o público masculino na saída das sessões (e se eles fossem sinceros nas respostas) talvez fosse bem outra a opinião deles sobre a naturalidade com que 'Jon' transa com mulheres, assiste pornografia e se masturba, sem que uma coisa exclua as outras. A conferir em uma nova pesquisa Masters-Johnson ou em um “relatório Hite” para eles; afinal, lemos há pouco tempo que um número próximo a 70% de homens entrevistados no Japão prefere francamente pornografia com auto-satisfação em vez de sexo com parceiras.

No mais, o filme ainda caricatura a sensualidade de Scarlett Johansson ao mostrar sua personagem como forte candidata a periguete naquelas roupas costuradas em seu corpinho escultural e em permanente exercício buco-maxilar de mascar chicletes incessantemente. Gostosa, mas dominadora/controladora, levando o pobre Jon a se limitar, muitas vezes, a esfregações sem tirar a roupa com consequentes manchas denunciadoras em suas calças - o que parece coisa de um passado distante, mas quem sabe?

Por fim, entra em cena Julianne Moore, sempre uma escolha de bom gosto para elenco, mas escalada como deus(a) ex machina para dar um arremate ao enredo. Nem filme nem roteiro são perfeitos, mas pelo menos desta vez há um desvio do marasmo na abordagem de temas mais terra-a-terra pouco explorados (e aqui, com tamanha desfaçatez, incluindo uma sátira mordaz ao sacramento católico da "confissão") em filmes americanos. Banaliza algumas situações, é verdade, mas faz com que se queira prestar atenção às futuras tentativas do ator por trás das câmeras.

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