Críticas


O MENINO E O MUNDO

De: ALÊ ABREU
14.01.2014
Por Carlos Alberto Mattos
Mais um triunfo artístico da animação brasileira

O Menino e o Mundo, segundo longa de Alê Abreu (Garoto Cósmico) é mais um feito admirável da animação brasileira. Se Uma História de Amor e Fúria ganhou o Festival de Annecy com um estilo mais próximo da animação comercial americana (embora muito bem adaptado à História brasileira), o filme de Alê está também se projetando internacionalmente mediante uma maior identificação com as tradições da animação europeia e canadense. Desenhos delicados, composições elaboradas revezando-se com outras ousadamente minimalistas (o uso do branco, por exemplo, é de uma coragem notável), uma sofisticada relação entre espaços e tempos que se reflete nas variações do estilo e das técnicas ao longo do filme.

Na história do menino que vê o pai sumir no mundo e sai atrás de uma imagem paterna, atravessamos sucessivamente do mundo rural e atemporal para o paroxismo das mensagens urbanas, para uma distopia futurista em que se destaca uma neofavela à moda de Blade Runner e até para uma passagem pelo abstracionismo imaterial do universo dos bits. Saindo em busca de um pai, o menino descobre a realidade da exploração do trabalho, da opressão industrial e da destruição ambiental. Em dado momento, o filme faz um aceno aos animadocs, incluindo cenas ao vivo de documentários como Iracema, ABC da Greve e Ecologia, os dois últimos de Leon Hirszman.

Além do encantamento visual ininterrupto, Alê Abreu nos brinda com um trabalho sonoro belíssimo – do idioma inventado em que falam os personagens à trilha sonora inspirada de Gustavo Kurlat e Ruben Feffer, com participação de Naná Vasconcelos. O som do filme é constitutivo de sua dramaturgia a partir do equivalente sonoro à presença/lembrança do pai e equaliza referências brasileiras e latino-americanas num amálgama em que tantos de nós podemos nos reconhecer.

Afora um ato final um tanto confuso, especialmente para o público infanto-juvenil, O Menino e o Mundo tem arte e engenho de sobra para cativar espectadores de várias idades e latitudes.

(Confira o ensaio visual de Alê Abreu na Filme Cultura nº 60)

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