Críticas


EM NOME DE DEUS

De: PETER MULLAN
Com: GERALDINE MCEWAN, EILEEN WALSH, NORA-JANE NOONE, ANNE-MARIE DUFF
27.01.2004
Por Marcelo Janot
ENCARCERADO PELOS CLICHÊS

É incrível como às vezes os júris de festivais, mesmo aqueles mais sérios, como Cannes, Veneza e Berlim, são capazes de cometer certas barbaridades. Em Nome de Deus (Magdalene Sisters) o filme que ganhou Veneza ano passado, poderia até levar um prêmio ecumênico, exclusivamente por seu caráter humanista, mas jamais ser considerado o melhor filme em competição. Esta produção anglo-italiana dirigida e roteirizada por Peter Mullan só se justifica por denunciar as aberrações cometidas contra as jovens internas de asilos católicos que proliferaram na Irlanda durante os anos 60 e 70. Cinematograficamente, tem pouquíssimas qualidades.



O filme começa bem, na forma como apresenta as situações que levaram três jovens a serem mandadas por suas famílias para esses internatos. Seus “crimes”: uma delas foi estuprada por um primo durante uma cerimônia de casamento; outra foi mãe solteira; a terceira, por ser muito bonita, é paquerada pelos meninos na saída da escola. Logo, percebe-se que o objetivo da internação não é qualquer tipo de reeducação ou aprendizado, mas sim privá-las integralmente do convívio social.



A partir daí, Em Nome de Deus se limita a reciclar todos os clichês possíveis de filmes em que pobres coitados inocentes vão parar em prisões, quartéis e internatos. Há a madre superiora malvada, que é igualzinha ao diretor de presídio inescrupuloso e ao sargento sádico; a interna fragilizada que não resiste à pressão e tenta o suicídio ou enlouquece; e a toda hora, há a necessidade de reforçar a denúncia contra condições de vida subhumanas.



Claro que é impossível ficar alheio a um drama de tal vulto, que ganha intensidade com as boas interpretações das (desconhecidas) atrizes principais, mas um roteiro mais cuidadoso não tentaria ganhar a cumplicidade do espectador apelando para um maniqueísmo primário. Injustiças religiosas motivadas pela cegueira dogmática receberam um tratamento muito mais digno e inteligente, por exemplo, no filme israelense Kadosh, de Amos Gitai. Um bom tema que o ator Peter Mullan, em seu segundo longa como diretor, acabou desperdiçando.



#EM NOME DE DEUS (Magdalene Sisters)

Inglaterra/Itália, 2002

Direção e Roteiro: PETER MULLAN

Elenco: GERALDINE MCEWAN, EILEEN WALSH, NORA-JANE NOONE, ANNE-MARIE DUFF

Duração: 119 minutos

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