Um olhar mais atento sobre a produção francesa ELA VAI, de Emmanuelle Bercot, e sobre a americana ATÉ O FIM, de J.C. Chandor, revelará semelhanças em filmes aparentemente muito diferentes. Um é um road movie em que a protagonista é uma senhora tentando buscar sentido para sua vida, transformada pelos contatos com quem cruza pelo caminho; o outro é um "water movie" em que o protagonista é um senhor à deriva em alto mar, que tem como única esperança seu instinto de sobrevivência. Ambos são filmes que tentam "ensinar" algo ao espectador - rotulá-los como "auto-ajuda" seria maldade com roteiros que buscam driblar os clichês melodramáticos.
Como exercício de linguagem, ATÉ O FIM é bem-sucedido em sua proposta de concentrar a ação no aqui e agora, deixando que o espectador construa o perfil do personagem de Robert Redford dentro de sua própria cabeça. Sem flashbacks, sem monólogos com o seu "eu interior" ou com alguma câmera de filmar, ele dá uma aula de economia narrativa a filmes desastrosos de temática semelhante, como "127 Horas".
ELA VAI, por outro lado, vai crescendo a partir do momento em que vamos conhecendo melhor a personagem de Catherine Deneuve, e tem uma das melhores trilhas sonoras de compilação de canções dos últimos anos, juntando de Rufus Wainright a Claude Nougaro, utilizados sempre com propriedade.
A semelhança maior que ambos os filmes guardam é a presença icônica de seus protagonistas, dois atores septuagenários que não escondem o efeito do tempo em sua histórica beleza e preservam seu talento. A toda hora somos lembrados de que o que vemos em cena não são apenas o velho lobo do mar e a simpática vovozinha em crise, mas sim o que Redford e Deneuve emprestam de suas trajetórias artísticas aos papéis. Apenas por isso, como tributo e gratidão, os dois filmes já valeriam o ingresso e o nosso profundo respeito. Vida longa a Catherine Deneuve e Robert Redford.
