Os yuppies arrivistas que se cuidem porque Joel e Ethan Coen não estão para brincadeira. Ou melhor, estão sim. Em O Amor Custa Caro , a cultuada dupla bate ponto no trabalho mantendo, porém, um espírito de feriado. Suas ambições parecem se reduzir a uma demonstração de domínio sobre as estruturas de mais um gênero – no caso, a comédia romântica. O objetivo, claro, não é tão-somente realizar um exemplar equivalente a tantos outros que chegam a cada semana ao circuito comercial e sim visitar uma gramática convencional e subvertê-la. Mas eles não saem totalmente ilesos desta manobra.
Enquanto os Coen apontam sua metralhadora giratória para os advogados hiper vaidosos e investem nas ácidas tiradas de salão constantemente trocadas entre suas personagens amorais, tudo vai muito bem. No entanto, a partir de um determinado instante, tentam mostrar para o público que são capazes de correr o risco de flertar com os mais batidos recursos do cinemão contemporâneo. Adotam ideologias politicamente corretas – o único antídoto contra o fastio e o vazio da riqueza é o amor – e reproduzem sequências corriqueiras – a exemplo do discurso do advogado interpretado por George Clooney (sustentando boa química com Catherine Zeta-Jones) em defesa dos sentimentos genuínos neste mundo cínico, que poderia figurar em qualquer surrado filme de tribunal – como que experimentando o “lugar do clichê”. Querem dar a impressão de que cederam ao esquemão. Óbvio, porém, que este não é o final da história. Daí em diante, Joel e Ethan passam a apostar em sucessivas viradas de “trama”, todas a serviço do posicionamento que pretendem imprimir frente ao material com que estão lidando. Trabalho feito, podem se dar ao luxo de fechar com um happy end não comprometedor.
# O AMOR CUSTA CARO (Intolerably Cruelty)
EUA, 2003
Direção: JOEL & ETHAN COEN
Roteiro: ROBERT RAMSEY, MATHEW STONE, JOEL & ETHAN COEN
Trilha Sonora: CARTER BURWELL
Fotografia: ROGER DEAKINS
Elenco: GEORGE CLOONEY, CATHERINE ZETA-JONES, BILLY BOB THORNTON, GEOFFREY RUSH
Duração: 100 minutos