Críticas


CALLAS FOREVER

De: FRANCO ZEFIRELLI
Com: FANNY ARDANT, JEREMY IRONS, JOAN PLOWRIGHT, JAY RODAN
07.11.2003
Por Maria Silvia Camargo
O FILMÃO QUE QUASE VIROU FILMINHO

Numa época em que as empresas fonográficas inventam cantores – que só cantam graças aos milagres da tecnologia – rever a vida de uma artista de verdade cai muito bem. Maria Callas era quase um sinônimo da palavra “diva”. Tinha voz, versatilidade, atuava – o que nem todo cantor clássico consegue – e era inteligente em suas escolhas de repertório. Como se não bastasse, era bonita. Envolveu-se num sem número de brigas e romances – foi amante de Onassis quando casada, por exemplo. Há uma infinita mitologia sobre ela: que tomava banho em champagne, que tinha um bar inteiramente forrado com pele de baleias - e por aí vai. Enfim: Callas foi uma personalidade e tanto, que viveu e morreu tão tragicamente quanto os personagens das óperas que representava. Em resumo, dava um filmão. E Callas Forever é apenas um filme.



Não fosse pela atuação de Fanny Ardant seria bem menos que isto. A atriz francesa de seus 50 e muitos anos se supera neste papel dificílimo. Mais bonita do que quando jovem - e desta vez vestindo Chanel dos pés à cabeça – ela se transfigurou em Maria Callas. Quando o filme começa, nos anos 70, é uma mulher de 53 anos que, tendo perdido a voz e o amor de sua vida (Onassis trocou-a por Jacqueline Kennedy) vive enclausurada em seu apartamento de Paris. Deprimida e dopada por pílulas, ela é incitada pelo antigo empresário Larry Kelly (Jeremy Irons) a se reapresentar para as novas gerações. Larry quer que ela represente as óperas que a fizeram famosa para a TV, colocando na imagem a voz que deixara gravada quando estava em seu auge, há 22 anos. A estrela reage, dizendo que fazer aquilo seria uma desonestidade. Mas Callas acaba se deixando seduzir por reviver Carmen (de Bizet), ópera já cantada, mas nunca representada por ela.



A recriação de Carmen é a melhor parte do filme, mais uma prova de que Franco Zeffirelli é melhor diretor quando se trata de musicais. Até a cor do filme muda neste trecho, saindo de alguns tons pálidos para gritantes vermelhos e amarelos. Fanny representa tão bem a cigana e Gabriel Garko é tão convincente no papel de um jovem Don José que Zeffirelli deveria considerar montá-la num palco. A intensidade emocional e feérica desta produção é fiel à fantasia do diretor que, já tendo trabalhado com a verdadeira Maria Callas (na ópera Tosca no Convent Garden em 1964) e feito um filme sobre ela em 1987, inventou uma história redentora - a partir da premissa do que teria acontecido caso ele a tivesse ajudado a sair da depressão dos últimos dias de vida.



Mas, fantasia à parte, não há nada no filme sobre a maneira como era adorada pelo povão – e muito pouco sobre os famosos ataques de seu difícil temperamento. Faltou mais paixão ao resto da história, mais ousadia, melhores diálogos. A direção de ator consegue até mesmo prejudicar Jeremy Irons em alguns trechos – com Joan Plowright lutando bravamente para não sucumbir. De qualquer forma, a postura íntegra de uma cantora que detestava enganar o público por saber o valor da verdadeira arte estão no filme graças a Fanny Ardant. Ela e Maria Callas nos deixam um pouco nostálgicos: já não se fazem mais cantores nem atrizes como estas duas.





# CALLAS FOREVER

França, 2002

Direção: FRANCO ZEFFIRELLI

Roteiro: MARTIN SHERMAN

Fotografia: ENNIO GUARNIERI

Produtora: GIOVANNELLA ZANNONI

Produtor Musical: EUGENE KOHN

Trilha Sonora: ALESSIO VLAD

Figurino: ANNA ANNI, ALBERTO SPIAZZI, ALESSANDRO LAI, KARL LAGERFELD

Maquiagem: NILO JACOPONI

Elenco: FANNY ARDANT, JEREMY IRONS, JOAN PLOWRIGHT, JAY RODAN, GABRIEL GARKO, ANNA LELIO, MANUEL DE BLAS, STEPHEN BILLINGTON, ALESSANDRO BERTOLUCCI.

Duração: 111min.

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