Críticas


JÚRI, O

De: GARY FLEDER
Com: GENE HACKMAN, DUSTIN HOFFMAN, JOHN CUSACK, RACHEL WEISZ
02.12.2003
Por João Mattos
O PESO DA BARAFUNDA E O ENCONTRO DOS TITÃS

Do diretor Gary Fleder, era lícito não esperar muita coisa. Afinal, o cara assinou um aberrante artefato de cultura pop cheia de violência insana metida a irônica (Coisas Para Fazer em Denver Quando Você Está Morto), e uma bizarrice (O Impostor) em que os conceitos de ficção científica A e B se misturavam de maneira involuntária e esquizofrênica, resultando num filme que de tão presumivelmente fadado ao fracasso (como acabou sendo), demorou muito para ser lançado nas salas e chegou à poucos países; além disso, o diretor fez duas fitas inconseqüentes de suspense (Beijos Que Matam e Refém do Silêncio).



Depois deste O Júri, típico filme de tribunal moderno que mostra o jogo de interesses nos bastidores de um julgamento que coloca a indústria das armas no banco dos réus, continua a não ser lícito esperar muita coisa desse cineasta, embora este filme seja o que de mais interessante ele tenha feito, porém, sofrendo justamente de uma falta maior de direção, um fulcro organizador. Contudo, não se deve creditar os defeitos de O Júri unicamente à direção de Fleder. Esta obra sofre com alguns dos problemas crônicos dos modernos thrillers jurídicos de um modo geral, não só dos filmes de tribunal mais especificamente, sobretudo aqueles que seguem a escola informal das fontes literárias no estilo que segue o escritor John Grisham, cujo livro deu origem à esse filme.



É preciso lidar com uma barafunda de fatos, dados e material dramático que tem que virar boa dramaturgia, que permita boa articulação artesanal-narrativa, e sem cair num juridiquês que chateie e/ou seja incompreensível para o grande público. Ainda por cima, o fundo ético de O Júri (e de tantos outros filmes de tribunal atuais), sugere uma idéia tão radical quanto perturbadora: num julgamento de júri popular, o que importa é menos a verdade, ou a busca sincera por ela, do que uma perfomance carnavalesca que satisfaça catarticamente e sem profundidade a média das agendas morais dos membros do corpo de jurados; em suma, importa mais como você fala, do que o que você fala – esqueça a aparente ambigüidade de um frase redentora perto do fim; é de manipulação emociona plenal que trata o filme.



E O Júri não consegue lidar a contento com essa idéia, pois soçobra com a já mencionada barafunda de fatos que torna o ritmo atravancado, o desenrolar da trama disperso, e atrapalha o desenvolvimentos de personagens secundários e principais. De que adianta o filme trazer uns 15 atores e atrizes interessantes (daqueles que chamam a atenção de cinéfilos e críticos que não se ligam só em astros e estrelas), tais como Bruce Davison, Bruce McGill, Luiz Guzman, Cliff Curtis, Nora Dunn e Celia Weston, se nenhum deles tem chance de brilhar, aparecendo de maneira por demais rápida e superficial? E no caso dos personagens centrais, o membro do júri (John Cusack), a mulher misteriosa que transita pelos bastidores do julgamento (Rachel Weisz), e a dupla envolvida em lados diferentes da causa (Gene Hackman e Dustin Hoffman) não são desenvolvidos de maneira satisfatória. As boas atuações do quarteto são muito mais resultado das potências naturais de cada um, do que bons papéis e direção.



Sofrendo com esses problemas crônicos, e tendo no comando alguém sem muito brio como Fleder, era natural que O Júri tivesse problemas como os que têm, tudo colaborando para impedir que a obra cative. O interessante é que o filme funciona no momento-chave: o encontro, em uma única cena, de Hackman (que faz consultor jurídico corrupto que trabalha para as companhia de arma) e Hoffman (o advogado que acusa a companhia), quando os personagens debatem o caso dentro de um banheiro público.



O bom texto nesse momento do roteiro, a direção também adequada ao instante, o conforto que os atores projetam ao contracenar, criam uma cena de enorme valor pelo significado simbólico só que também funcional à trama, evitando a vulgaridade de um grande momento pré-fabricado. Trata-se de uma cena antológica, mas sem antologismos, e que junto a um detalhe relevante aqui (as cenas na central de espionagem eletrônica dos jurados, por exemplo), outro ali, faz de O Júri um trabalho digno de ser assistido.





# O JÚRI (Runaway Jury)

EUA, 2003

Direção: GARY FLEDER

Roteiro: BRIAN KOPPELMAN, RICK CLEVELAND, MATTHEW CHAPMAN, DAVID LEVIEN.

Produção: GARY FLEDER, ARNON MILCHAN, JEFFREY DOWNER.

Fotografia: ROBERT ELSWIT

Montagem: WILLIAM STEINKRAMP

Música: CHRISTOPHER YOUNG

Elenco: GENE HACKMAN, DUSTIN HOFFMAN, JOHN CUSACK, RACHEL WEISZ, JEREMY PIVEN, BILL NUNN.

Duração: 127 min

site: http://www.runawayjurymovie.com/

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