Críticas


LUGAR NENHUM NA ÁFRICA

De: CAROLINE LINK
Com: JULIANE KÖHLER, MERAB NINIDZE, SIDEDE ONYULO
07.01.2004
Por Marcelo Janot
CLICHÊ NENHUM NA ÁFRICA

Lugar Nenhum na África escapa da principal armadilha que poderia se esperar de um filme como esse: o de cair nos piores clichês do contraste cultural e do olhar deslumbrado sobre o “exótico”. A diretora alemã Caroline Link foi à África para, sob o pretexto de uma história de amor ambientada na Segunda Guerra, resgatar a dignidade de um continente que invariavelmente é visto de forma superficial e artificial em filmes americanos e europeus. Sua forma de mostrar o povo africano e seus costumes muitas vezes tem um quê documental que faz lembrar sua compatriota Leni Riefenstahl, que na década de 60 fez diversas viagens ao continente para registrar, em fotos, a cultura daquele povo.



Uma cena no início serve de síntese do filme: recém-chegada da Alemanha, onde levava vida nababesca, Jettel se vê tendo que cavar o solo pra pocurar água. Ela ordena o cozinheiro da fazenda que a auxilie na tarefa, mas Owuor se recusa, alegando que a função dele é cozinhar, enquanto buscar água é tarefa das mulheres. Ao final, sensibilizado pela dificuldade dela para carregar duas pesadas latas cheias d’água, ele se oferece para ajudar, para a gargalhada geral de gozação das nativas africanas que a tudo observavam.



Naquele momento, a condição econômica dos alemães judeus que fugiam do nazismo era praticamente a mesma dos africanos: tinham que se virar trabalhando por uns trocados nas fazendas dos colonizadores ingleses. Embora pertencentes a culturas bem diferentes, a eles só interessava a oportunidade de levar uma vida em liberdade. E se Jettel e seu marido sofrem com a instabilidade emocional que o exílio forçado lhes provoca, a pequena Regina, para quem tudo é novidade, acaba sendo a única a passar incólume por todo o processo.



Para um filme com mais de duas horas de duração, os dilemas amorosos de Jettel em contraste com a ascensão e o declínio nazista não parecem suficientes para segurar o espectador. E este é o cerne do roteiro. Felizmente, a ótima performance das meninas que interpretam Regina quando criança e adolescente seguram Lugar Nenhum na África. Curioso observar como, em contraste com a ausência de conflitos do roteiro, a diretora parece querer “esquentar” a narrativa usando repetidamente um movimento de câmera que consiste em um zoom repentino no rosto dos atores, mas o recurso funciona apenas na primeira ou segunda vez; depois disso fica parecendo um cacoete estilístico que nada acrescenta. Por outro lado, mesmo uma súbita tempestade de gafanhotos predadores, que poderia ser assustadora, ganha um registro cinematográfico mais próximo de um documentário insosso da National Geographic. Excetuando esses pequenos deslizes, Lugar Nenhum na África possui um surpreendente poder de encantamento que faz funcionar um filme que tinha tudo para dar errado.



# LUGAR NENHUM NA ÁFRICA (NOWHERE IN AFRICA)

Alemanha, 2001

Direção e Roteiro: CAROLINE LINK

Produção: BERND EICHINGER, PETER HERRMANN, MICHAEL WEBER

Fotografia: GERNOT ROLL

Montagem: PATRICIA ROMMEL

Música: NIKI REISER

Elenco: JULIANE KÖHLER, MERAB NINIDZE, SIDEDE ONYULO

Duração: 141 min.

site: www.nowhereinafrica.com

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