Críticas


TRANSFORMERS 4 : A ERA DA EXTINÇÃO

De: MICHAEL BAY
Com: MARK WAHLBERG, STANLEY TUCCI, NICOLA PELTZ, KELSEY GRAMMER.
17.07.2014
Por Gabriel Papaléo
Não é um filme para rir ou entreter: é um filme que te vence pelo cansaço.

Michael Bay e o velho senil do cinema.

O protagonista, Cade Yeager, entra em um cinema abandonado acompanhado de dois homens. Vai até a sala do projecionista e ouve um pouco sobre os formatos de exibição cinematográficos, exaltando que a sala roda "inclusive IMAX". A sessão de merchandising não é novidade em blockbusters, pode virar até uma boa piada aqui com a Bud Light, mas a partir do momento em que um personagem ganha o direito de transformar um material em qualquer coisa e ele pensa em um amplificador da Beats, temos algo de muito errado.

A tetralogia Transformers há muito saiu do conceito de aventura spielberguiana para se transformar numa anomalia sem estrutura voltada para entretenimento de toda a família - caso essa família goste muito de um enredo desconexo e de guerra maciça - mas dessa vez o longa parece servir apenas como ferramenta financeira em que pessoas discutem sobre nada enquanto vendem produtos e defendem o diretor Michael Bay e os produtores contra críticos da cinessérie. Transformers 4: A Era da Extinção, o novo capítulo da franquia, é, pelo menos, mais honesto nesse sentido: o roteirista Ehren Kruger, há três filmes no comando, abandona qualquer fio dramático interessante para simplesmente costurar o desenvolvimento de personagens com enormes sequências de ação, tanto em escala como em duração.

Desta vez somos apresentados a um novo (ou seria "novo"?) núcleo humano. Cade Yeager, vivido por Mark Wahlberg, é um inventor texano que cria a filha sozinho após a morte da esposa. Acompanhado de amigo bobão e namorado da filha, Yeager parte para a nova intriga alienígena e ajuda Optimus Prime a se reconciliar com a humanidade. Ehren Kruger adota uma estrutura de caçada ao roteiro, impondo aos personagens uma corrida pelo globo que os coloca apenas como espectadores em meio à ação frenética. A inexistência de arcos se converte em meros objetivos, deixando o longa com muita cara de videogame. O roteiro progride (melhor dizendo: se arrasta) somente pelas sequências de pancadaria: contando a metragem das duas grandes sequências de ação do filme, a infiltração na nave e o confronto final em Hong Kong, pelo menos 80 minutos de filme se passam.

Se a sacada de substituir os humanos da série pode ser interessante, após transformar Shia LaBeouf em um misto de instabilidade emocional e gritaria ininterrupta, o roteirista Kruger denuncia sua total falta de imaginação quando apenas adapta os antigos arquétipos ao novo núcleo. O romance adolescente permanece, o ator renomado transformado em arrogante engraçado também (sai John Turturro, entra Stanley Tucci) e até mesmo os insuportáveis alívios cômicos do segundo e terceiro filme, sempre os amigos paspalhos do protagonista, surgem adaptados aqui - e o sempre competente Wahlberg, coitado, é obrigado a passar o primeiro ato todo acompanhado do estereótipo do surfista maconheiro.

Enquanto franquias geralmente estabelecem uma lógica interna de fatos para criar um tipo de "mitologia", Transformers segue subvertendo negativamente a expectativa. A cada filme o roteirista Kruger altera um fato na origem da relação dos alienígenas com a Terra, e desta vez a desculpa em si, a extinção dos dinossauros (se achou isso lamentável experimente analisar o roteiro todo) serve para introduzir uma arma de destruição que ameaça o planeta. Além, claro, de apresentar os famosos Dinobots. Coerência nunca foi o forte da série, com seus robôs que apresentam sotaques regionais de vários lugares da Terra, mas dessa vez a incoerência em abundância vai criando uma certa anestesia com o passar do tempo. A Era da Extinção é um filme que te vence pelo cansaço.

Voltam também piadas absolutamente terríveis (o que é a tal lei Romeu e Julieta?) e situações absurdas (alguém em cena lembra que Nicola Peltz tem só 17 anos e o diretor Bay filma logo o short curto dela!). Kruger também falha ao passar o plot por diálogos excessivamente expositivos, e constrói os personagens como criaturas unidimensionais apenas a serviço das necessidades da trama. Um exemplo disso é a conversa de Joyce (personagem de Tucci) e Attinger (vilão vivido por Kelsey Grammer): ambos revelam suas ambições e planos em apenas uma cena, expondo tudo o que eles não discutiriam normalmente simplesmente para apresentar ao público uma situação que já se fazia entender sem essa exposição verbal. Mesmo ao sugerir tensão ao construir conflitos, como o do namorado que se vê preso na indústria, Kruger abandona o obstáculo sem mais explicações e prossegue para a próxima cena sem se preocupar com coerência ou recompensa para o espectador.

Michael Bay, por sua vez, descontrola-se (ainda mais do que no terceiro filme) na destruição em massa. Egresso de Sem Dor, Sem Ganho, seu melhor filme desde A Rocha, o americano retorna ao universo dos robôs, desta vez munido das novas câmeras IMAX 3D. Em O Lado Oculto da Lua, o estilo frenético do diretor fora amenizado pela necessidade de filmar em 3D, o que conferiu às sequências de ação uma compreensão pouco esperada vinda do responsável por Bad Boys II. Em A Era da Extinção, Bay abusa da portabilidade das novas câmeras e confere escala grandiosa para a ação através de pontos de vista interessantes, que alternam entre o calor da batalha e a visão ampla da destruição. Também é feliz a decisão de reduzir consideravelmente o número de robôs na batalha, deixando o impacto da guerra se perceber no ambiente, e não no caótico número de personagens. Ao menos, mantendo poucos robôs, Bay pode ter mais controle sobre os diferentes eixos de combate na ação - o que ajuda na escala gigantesca que o diretor almeja. E mais uma vez prova seu apuro visual com uma fotografia de cores fortes, que fica estonteante em IMAX. O problema de Bay continua sendo a total falta de uso da linguagem cinematográfica para contar a história através da câmera, e não da exposição irrefreável imposta pelo roteirista. Os excelentes efeitos e alguns bons trechos se veem perdidos em um filme que confunde gravidade com grandiloquência. A destruição é belíssima, e de fato a ação é planejada com algum rigor, mas o peso dramático nulo quase invalida o entretenimento. Ao invés de encantar e divertir, o clímax desperta apenas o desejo de que tudo ali acabe logo. Quando alguém fala que "você não tem ideia de quem está por trás disso", meu pensamento era "muito menos eu".

Logo no início, naquele mesmo cinema, Cade conversa com aqueles dois proprietários. O mais velho deles fala de uma época em que os filmes o agradavam, quando Hollywood não era feita apenas de "sequências e reboots". O mais novo olha para Cade, pede para que desconsidere o idoso e exclama: "Ele está velho e senil".

O novo Transformers não é um filme para rir ou entreter; é um filme para se descansar muito após a sessão.

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