Críticas


PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO… E PRIMAVERA

De: KIM KI-DUK
Com: OH YEONG-SU, KIM KI-DUK, KIM YOUNG-MIN, SEO JAE-KYEONG, HA YEO-JIN
19.06.2004
Por Carlos Alberto Mattos
ZEN DE EXPORTAÇÃO

O cinema coreano está na crista da onda e Kim Ki-Duk talvez seja o seu mais famoso representante para as platéias ocidentais. Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera é o seu quinto filme, seguindo-se ao perturbador A Ilha e a outros nunca lançados no Brasil. Aqui, o jovem realizador (que faz o papel do monge adulto no último segmento do filme) troca a crueza naturalista de A Ilha por um estilo zen-de-exportação para narrar uma história recheada de lugares-comuns da orientalidade: o relato circular simbolizando o ciclo da vida; as estações do ano sublinhando o tipo de emoção predominante em cada segmento; a locação insulada do mundo que remete à metáfora; uma encenação ritualística que destaca elementos muito “típicos” como estátuas de Buda, portas desguarnecidas de paredes, pequenos animais, caligrafia, artes marciais etc.



Com esse acúmulo de signos facilmente reconhecíveis não pelo que significam, mas por comporem uma certa idéia de estética oriental, como em antigas folhinhas, Kim Ki-Duk se dispõe a contar mais uma variação do tema mestre-discípulo. Num pequeno templo-ilha no meio de um lago envolvido por frondoso vale, os instintos se chocam com a vida contemplativa. “A luxúria desperta o desejo de posse e a intenção de matar”, dita o velho monge a propósito do comportamento de seu discípulo, ali pela metade do filme. A frase ecoa como um anátema pelo resto da projeção. Nada mais resta ao espectador de Primavera... senão aguardar a completa demonstração daquelas palavras.



Ela virá, inexorável e didática como uma preleção de mosteiro. Os visitantes eventuais daquele santuário trazem a marca das coisas mundanas: sexo, violência e culpa. A mensagem é que virtude e pecado, ascese e queda não pertencem a mundos separados, mas coexistem dentro da natureza humana. A passagem do tempo e das idades encarrega-se de posicionar o espírito em cada um desses movimentos.



O filme tem sido muito elogiado pela simplicidade e beleza com que desdobra sua argumentação. De fato, a coesão espacial, a direção de atores às vezes naïf e a maneira frontal com que tudo é exposto pode ser facilmente interpretada como uma qualidade zen. As imagens são extremamente bem cuidadas, repousantes e apenas levemente intrigantes, o suficiente para seduzir o espectador sem assustá-lo com a sombra de algum mistério insondável. Mas tudo isso, somado a uma trilha sonora adocicada e reiterativa, não deixa de lembrar a insipidez da New Age.



Kim-Ki Duk chegou ao cinema através das artes plásticas, que estudou em Paris. Isso pode explicar, em parte, o caráter pictórico de alguns de seus filmes. No entanto, percebe-se que a plasticidade de Primavera... muitas vezes é mais um adorno fantasioso que um caminho para a significação.



# PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA (BOM YEOREUM GAEUL GYEOUL GEURIGO BOM)

Coréia do Sul/Alemanha, 2003

Direção, roteiro e montagem: KIM KI-DUK

Fotografia: BAEK DONG-HYEON

Direção de arte: STEFAN SCHÖNBERG

Som: KU BON-SEUNG

Produção: LEE SEUNG-JAE, KARL BAUMGARTNER

Elenco: OH YEONG-SU, KIM KI-DUK, KIM YOUNG-MIN, SEO JAE-KYEONG, HA YEO-JIN Duração: 103 minutos

Site oficial: www.sonyclassics.com/spring

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário