Todo mundo que acompanha a carreira dos irmãos Coen espera que o próximo filme deles seja um de seus inesquecíveis. A lista destas obras que lhes fizeram fama varia, mas parece haver uma unanimidade em torno de Arizona Nunca Mais , Barton Fink e Fargo pelo menos. Ainda que nada supere a genialidade da trama de Fargo e o tom de comédia cáustica de Barton Fink , quase todos os filmes da dupla tem marcas únicas e inesquecíveis. Quem não se lembra de Jeff Bridges como The Dude em Big Lebowsky ? E dos diálogos de John Turturro e George Clooney em E Aí, Meu Irmão? A fala, aliás, quase cifrada de seus personagens (um misto de sotaque caipira com gíria e ignorância) envolta em incríveis diálogos foi uma das primeiras gostosas surpresas para o público em Arizona Nunca Mais – ainda em 1997.
Pois Matadores de Velhinha mantêm esta preocupação com a fala e os diálogos. Seu personagem central, O professor G. H. Dorr (Tom Hanks) hipnotiza as pessoas quando abre a boca. Ele também é um daqueles estranhos golpistas safados que habitam os filmes dos Coen. Fala pelos cotovelos - como todo bom malandro - e seduz. Aliás, todos os personagens dos Coen – envoltos em histórias fantásticas, quase inverossímeis – são tão sedutores quanto os irmãos. Mas nem assim Tom Hanks faz o filme entrar para a galeria daqueles que deixarão saudades.
Baseado no ótimo O Quinteto da Morte , filme inglês de 1955, escrito por William Rose, Matadores de Velhinha encanta principalmente pelo desempenho de Tom Hanks e Irma P. Hall, como os dois personagens principais. A exemplo de Alec Guinness no primeiro filme, Hanks tem um desempenho bem acima dos resto de seus pares. É ele quem consegue dar autenticidade a seus dentes falsos e ternos antigos. Assim como Irma Hall faz da típica viúva religiosa, que zela pelos bons costumes, uma figura verossímel. Ambos se encaixam no cenário, na época e na pequena cidade em que se passa este filme de grande apuro visual, que lembra um pouco o espírito de E Aí, Meu Irmão? . Mas isto não acontece com o quarteto que acompanha o professor: eles parecem os personagens de Deu a Louca no Mundo (It’s a Mad, Mad World) , uma comédia a la Disney, de tão caricatos. Há o chinês (Tzi Ma), o negro (Marlon Wayans), o descerebrado (Ryan Hurst) e o perito em explosivos (J.K. Simmons). Uma turma tão bandeirosa que nem uma velhinha cega dos dois olhos iria deixá-los entrar em sua casa.
Mesmo assim o filme rende algumas boas gargalhadas – talvez algumas a mais das que demos no tão mal falado O Amor Custa Caro , não por um acaso outro remake – e tem um final surpreendente. Dá perfeitamente pra matar o tédio - enquanto se espera por mais um roteiro original dos irmãos.
# MATADORES DE VELHINHAS (THE LADYKILLERS)
EUA, 2004
Direção: Ethan e Joel Coen
Roteiro: William Rose, Joel e Ethan Coen
Produtores: John Cameron, Ethan&Joel Coen
Trilha sonora: Carter Burwell
Fotografia: Roger Deakins
Edição: Ethan & Joel Coen
Elenco: Tom Hanks, Irma Hall, Marlon Wayans, J.K. Simmons, Tzi Ma, Ryan Hurst, Diane Delano, George Wallace, John McConnell.
Duração: 104 minutos.