Críticas


DIA SEM MEXICANOS, UM

De: SERGIO ARAU
Com: YARELI ARIZMENDI, MAUREEN FLANNIGAN, JOHN GETZ
17.09.2005
Por João Mattos
SÁTIRA DEFEITUOSA

O que faz dos EUA um país tão vivaz e de vida interessante a ser observada é intensa mistura e choque entre as coisas por lá (do puritanismo com a sacanagem que grassa na mega indústria da pornografia, etc, etc). Dito pelos profissionais do anti-americanismo como ultra xenófobo, é o país do mundo que mais recebe imigrantes, e é esta a razão, pelo qual a população do país vive, sim, num relacionamento conturbado e complexo com os estrangeiros. Um Dia Sem Mexicanos, cujo título explica o ponto de partida, tenta examinar pela via da sátira de humor negro o efeito de tal desaparecimento (generalizado) na Califórnia, estado dos EUA que é a quinta economia do mundo (se fosse um país), concorrente do Brasil no ramo da citricultura, e no qual um terço dos moradores é imigrante hispânico.



Apesar da presença de americanos simpáticos, ao lado de alguns vilanescos, e outros mais multifacetados (o político ignorante meio pilantra e populista, que no fundo é contra apenas a imigração ilegal), o tom é claramente de incisiva cobrança e crítica contra os norte-americanos em relação aos seus imigrantes. A progressiva decrepitude social que a Califórnia do filme (falado em inglês a maior parte do tempo) enfrenta quando não tem mais quem recolha seu lixo, colha suas laranjas, etc, vira uma sequência de cenas satíricas, que se alternam entre o bom e o mau riso e um didatismo quase insuportável. Em inúmeras cenas, a imagem é congelada para que entrem letreiros explicativos e informativos: eles explicam para a platéia que Guatemala e Honduras não tem a ver com o México (ao contrário do que diz o já mencionado político), a confusão entre os termos latino e hispânico, que sei lá quantos jogadores de beisebol do time mais importante do estado tem raízes hispânicas e tome de etc.



Esse tom professoral tacanho, de doutrina excessiva, que subestima a inteligência da platéia (dos EUA e fora dele), aniquila todas as chances desta estréia do diretor mexicano Sergio Arau (baseada em curta dele mesmo), filho do diretor de Como Água para Chocolate (Alfonso Arau), ser uma sátira cuja inteligência e pertinência sejam efetivas, de alcance sócio-cultural relevante em relação ao tema geral proposto. Ainda por cima, mesmo em alguns momentos, incisivo, o filme tem outros meio doces e bonitinhos demais em relação ao que está rolando. A ferocidade inerente à toda sátira, pode ser modulada por uma certa leveza que atenue o choque, mas jamais quando já há o peso de um didatismo ferrenho. O mais interessante da obra são uns pequenos desvios melodramáticos na dramaturgia (como o segredo que revela ao vizinho, a loura americana casada com um dos mexicanos que sumiu), cuja natureza tem semelhança com o notório apreço pelo rocambolesco da telenovela mexicana (hispânica e latino-americana de um modo geral). Para ver um filme com tema parecido, mais complexo e muito, muito mais engraçado sobre esse tema, alugue em VHS o telefilme Segunda Guerra Civil, de Joe Dante, uma pequena obra-prima.





# UM DIA SEM MEXICANOS (A DAY WITHOUT A MEXICAN)

EUA, 2003

Direção: SERGIO ARAU

Elenco: YARELI ARIZMENDI, MAUREEN FLANNIGAN, JOHN GETZ

Duração: 91 min

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