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EMMANUELLE BERCOT E SEU FILME “DE CABEÇA ERGUIDA”

18.09.2015
Por Luiz Fernando Gallego
O orgulho apaixonado da diretora pelos cuidados de seu país para com menores delinquentes ficam evidentes.

Catherine Deneuve empresta seu nome estrelar ao papel de uma juíza em corte de menores no filme De Cabeça Erguida, assinado pela igualmente atriz (premiada em Cannes este ano nesta função) Emmanuelle Bercot - que já dirigira Deneuve em Ela Vai.

La Tête Haute (título original) parece ter um certo ar “chapa-branca” ao mostrar a dedicação e angústias da juíza e de um “orientador” de menor delinquente (uma espécie de assistente social muito mais proativo do que os que conhecemos no Brasil) encarnado com igual competência por Benoît Magimel. Mas o desempenho que chama mais atenção é do jovem Rod Paradot como um adolescente explosivo, sem nenhuma tolerância à frustração, filho de uma mãe amorosa, porém sem-noção e dependente química.

Pude assistir o filme com a presença da diretora em recente festival de filmes franceses até então inéditos: a plateia fez notar à cineasta que percebeu algo engrandecedor do trabalho dos profissionais da Justiça de menores francesa. Ela assumiu que fez o filme a partir da admiração que tem por um tio que trabalhava nesta função de “orientador”, e disse que o trabalho com menores delinquentes é muito bem feito em seu país, embora a estatística de resultados favoráveis no sentido de afastar os jovens da marginalidade (estatística que ela mesma ofereceu) não seja tão satisfatória. Neste sentido talvez tenha escapado à diretora e co-roteirista aspectos ligados ao distúrbio de personalidade do modo como seu personagem jovem aparece caracterizado no roteiro. Se a questão social não é absolutamente desprezível, há questões na esfera psicológica que várias vezes independem de classe social - e que limitam os melhores resultados que gostaríamos de obter neste complexo terreno da delinquência juvenil. Mas, afinal, não se trata de uma reportagem, ou pesquisa, e muito menos de tese, mas de um filme bem conduzido.

Também foi cobrado da diretora até mesmo sua opinião sobre maioridade penal (ela respondeu de imediato "dezoito anos", mas acrescentou que mais importante é o que se pode fazer com o jovem antes deste ou de qualquer outro limite de idade para punição comum).

O suspense sobre os progressos e regressões reincidentes do personagem é bastante hábil para manter o interesse do público neste filme correto de narrativa cinematográfica tradicional. O orgulho apaixonado da diretora pelos cuidados de seu país para com menores delinquentes ficam evidentes pela presença da bandeira francesa em uma cena importante do filme. Nem precisava.

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