Críticas


MENINOS DE DEUS

De: PETER CARE
Com: EMILE HIRSCH, KIERAN CULKIN, JENA MALONE, JODIE FOSTER
08.10.2004
Por Carlos Alberto Mattos
ZERO EM COMPORTAMENTO

Dissolver comprimidos de Valium no vinho do padre e seqüestrar a imagem de Santa Ágata da entrada do colégio são ações que fazem parte do manual subversivo dos sacristãos Francis Doyle e Tim Sullivan. Eles são adolescentes curiosos e inteligentes demais para a pasmaceira da conservadora Savannah (sul dos EUA) nos anos 1970. Embalados por gibis de super-heróis, versos de William Blake e muita testosterona ociosa, tudo o que têm a fazer é declarar guerra aos padrões repressivos do colégio católico que freqüentam.



Meninos de Deus adere com garra e alguma poesia à perspectiva dos meninos, impondo-se como uma versão de Zero em Comportamento para a era de Cat Stevens. Não se trata exatamente de um manifesto anarquista como o clássico de Jean Vigo, mas tem um pulsação romântica e uma elaboração de planos narrativos que o fazem voar milhas acima da média de filmes americanos sobre a vida escolar. Francis mantém um romance nada sereno com uma menina atormentada por um trauma sexual dentro da própria família. Suas hesitações afetivas, assim como seu inconformismo diante da autoridade estabelecida, são canalizados para o desenho de uma aventura em quadrinhos, que é narrada em paralelo sob a forma de animação.



Os problemas do filme começam quando a questão amorosa ocupa mais espaço que as alegres e arriscadas infrações dos garotos. E aumentam um bocado a partir do momento em que Francis e Tim decidem raptar um puma do zoológico para pregar uma peça na tirânica Irmã Assumpta, papel assumido com a costumeira aplicação por Jodie Foster, produtora do filme. Uma tragédia subitamente converte o filme de elogio da desobediência em lamento de comiseração. A lógica punitiva e moralizante do cinema americano impõe-se sobre o encanto radical dos personagens e deixa um travo de decepção.



Resta, porém, a lembrança de uma brisa transgressora, ainda que efêmera. Além de uma bonita trilha sonora e de uma direção que administra muito bem o talento e o frescor dos atores Emile Hirsch (um Ewan McGregor em miniatura) e Kieran Culkin, o irmão mais novo de Macaulay.





# MENINOS DE DEUS (The Dangerous Lives of Altar Boys)

EUA, 2002

Direção: PETER CARE

Roteiro: JEFF STOCKWELL e MICHAEL PETRONI, sobre o livro de CHRIS FUHRMAN

Produção: JODIE FOSTER, MEG LEFAUVE, JAY SHAPIRO

Fotografia: LANCE ACORD

Música: MARCO BELTRAMI e JOSHUA HOMME

Montagem: CHRIS PEPPE

Direção de arte: GEOFFREY S. GRIMSMAN

Animação: TODD McFARLANE

Elenco: EMILE HIRSCH, KIERAN CULKIN, JENA MALONE, JAKE RICHARDSON, TYLER LONG, JODIE FOSTER, VINCENT D´ONOFRIO

Duração: 105 minutos

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário