Em recente entrevista a Carlos Heli de Almeida publicada no Jornal do Brasil, o diretor Bruno Barreto declarou que um dos motivos que o levaram a se interessar pelo projeto de O Casamento de Romeu e Julieta foi que “a história serviria como metáfora para o fanatismo em geral, de governos e religiões do mundo atual, que tem gerado esses horrores que vemos todos os dias no noticiário”. Dois parágrafos adiante, ele se contradiz dizendo que “é um filme que não se leva a sério e, como cada vez me levo menos a sério, me sinto emocionalmente ligado a ele”.
Então, se Bruno Barreto assume que cada vez se leva menos a sério, automaticamente também estamos poupados de levar a sério essa história de encarar O Casamento de Romeu e Julieta como metáfora para o fanatismo de governos e religiões, e blá,blá,blá. O problema é que o filme tampouco funciona como comédia romântica escapista e descompromissada.
No início, em uma seqüência primorosa, Barreto consegue a proeza de captar com precisão quase documental a atmosfera de uma arquibancada lotada em dia de clássico. Para os apreciadores do futebol, é um deleite, especialmente ao lembrarmos de quão ínfima é a filmografia dedicada ao esporte mais popular do país.
O fanático por futebol sabe que nem mesmo uma Luana Piovani faria um corinthiano doente vestir a camisa do Palmeiras e se fingir de torcedor do rival por tanto tempo, ou um tricolor carioca usar o pano de chão rubro-negro. Ok, aceita-se a opção do filme pela caricatura, uma vez que se trata de uma espécie de paródia ao clássico de Shakespeare. Mas infelizmente, apesar de alguns poucos momentos que provocam risos – como a broxada do corintiano em cima do lençol palmeirense – o roteiro força a barra para tentar criar situações de conflito, apela para o pastelão bobo, oferece nada mais que a sensação do já visto e cria enfado, ao invés de realmente divertir. A cena em que o personagem de Marco Ricca assume que é corinthiano dentro do avião, voltando de Tóquio após a derrota do Palmeiras, parece copiada do filme americano Quase Famosos, quando um roqueiro revela aos colegas de banda que é gay ante a iminência da queda do avião.
À exceção dos veteranos Luís Gustavo e Berta Zemel, o elenco está pouco convincente, tendo Mel Lisboa como destaque negativo em uma personagem completamente deslocada. Ao contrário do simpático Bossa Nova, em que o roteiro oferecia algumas boas soluções para fugir dos clichês de comédia romântica, se fazendo valer do cenário bonito por natureza dos cartões postais cariocas, dessa vez o filho mais talentoso do clã Barreto derrapou feio em sua nova incursão pelo gênero. Antes que se pense que o problema é o fato de O Casamento de Romeu e Julieta ser ambientado em São Paulo, o crítico carioca avisa que não compartilha dessa rivalidade tão antiga quanto a de Palmeiras e Corinthians e Flamengo e Fluminense. Pelo menos não na hora em que está julgando um filme.
# O CASAMENTO DE ROMEU E JULIETA
Brasil, 2005
Direção: BRUNO BARRETO
Roteiro: JANDIRA MARYINI, MARCOS CARUSO E MARIO PRATA
Produção: PAULA BARRETO
Fotografia: ADRIANO GOLDMAN
Montagem: FELIPE LACERDA
Direção de Arte: CASSIO AMARANTE
Elenco: MARCO RICCA, LUANA PIOVANI, LUÍS GUSTAVO, BERTA ZEMEL, MARTHA MELLINGER, MEL LISBOA, LEONARDO MIGGIORIN
Duração: 93 min.
site: www.ocasamentoderomeuejulieta.com.br