Críticas


NOSSA IRMÃ MAIS NOVA

De: HIROKAZU KOREEDA
Com: HARUKA AYASE, MASAMI NAGASAWA, SUZU HIROSE ,KAHO.
03.04.2016
Por Luiz Fernando Gallego
A sensibilidade habitual do diretor Koreeda em mais um enredo de cunho familiar.

Com a sensibilidade habitual de outros filmes seus centrados em questões familiares, o cineasta Hirokazu Koreeda aborda a vida de três irmãs na faixa dos vinte aos trinta anos que recebem em casa uma meia-irmã adolescente, filha do mesmo pai com uma mulher pela qual ele abandonou a família. A mãe dessas três irmãs também as deixou morando na casa onde a família residia e as moças podem ter tido ajuda de uma tia-avó, mas provavelmente a mais velha, hoje enfermeira, foi quem criou as outras duas.

A notícia da morte do pai que as deixou há quinze anos não as abala muito, mas a decisão de convidar a irmã adolescente para conviver com elas traz algum desconforto para outras parentas. A mãe das três mais velhas reaparece pensando em vender a casa onde agora também mora a filha da mulher pela qual o marido a abandonou. Este enredo pode lembrar algo de Tchekhov (“Tio Vania”, “Três Irmãs”?), mas o roteiro do próprio Koreeda é baseado de fato em uma graphic novel.

Mestre em descrever situações cotidianas e triviais que nem sempre se relacionam diretamente com o enredo central, Koreeda vai delineando os traços de personalidade de cada uma das irmãs (e dos demais personagens secundários) com extrema delicadeza: em alguns momentos com mais detalhes, mas em outros só se manifestam o que os personagens deixam aparecer dentro da discrição cerimoniosa dos hábitos japoneses.

O tema principal da trilha musical em seus acordes iniciais lembra muito o conhecido “Adagietto” da Quinta Sinfonia de Mahler, mas segue outro desenvolvimento e parece acentuar alguns aspectos de inclinação melodramática da história, sem que o filme descambe para a pieguice em nenhum momento - embora não haja o menor pudor na abordagem de situações bastante sentimentais. O elenco, com desempenhos primorosos, colabora para a elegância dentro da qual o filme se mantém, com destaque para as intérpretes das duas irmãs mais velhas, as belas Haruka Ayase e Masami Nagasawa. Mas também a atriz que faz mãe quando esta reaparece transmite muito da personagem em poucas cenas e com recursos discretos na composição da personagem.

A aparente banalidade dos diversos trechos episódicos que vão compondo o todo do filme parece, no entanto, ter sido cuidadosamente desenvolvida pelo diretor como se pode observar em tomadas da casa com as irmãs conversando, situadas em diferentes planos, mas todas em foco - como na profundidade de foco de filmes de Ozu, também recorrentes em temas familiares. Em poucos momentos há uma ênfase na estética das imagens, tal como na cena dos fogos de artifício (vistos em reflexo na água em volta de um barquinho) ou no percurso de bicicleta por sob um “túnel” de flores de cerejeiras. Koreeda voltou a usar o mesmo cinegrafista de Pais e Filhos, Mikiya Takimoto, que na maior parte do tempo não recorre a “enfeites” fotográficos: tudo parece fluir de modo corriqueiro, mas tudo deve ter sido muito trabalhado para transmitir ao espectador a impressão de realidade, do dia-a-dia mais simples de cidades distantes das grandes metrópoles e que podem guardar um pouco mais das tradições culturais do Japão.





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