James L. Brooks não possui uma filmografia extensa. São apenas cinco filmes em 22 anos de carreira como cineasta. Seu talento multifacetado espalhou-se por outras praias, como produtor de cinema e roteirista de séries de televisão, dentre as quais destacam-se Mary Tyler Moore e Os Simpsons. O longo período entre um filme e outro não retirou da curta filmografia de Brooks características que a particularizam e que de alguma maneira se encontram resumidas neste Espanglês. Do melodrama Laços de Ternura, que arrebatou 5 Oscar, inclusive o de direção, ao menos ambicioso, mas não menos novelesco Espanglês, o diretor encontrou no universo das relações humanas e de suas estranhas particularidades um mundo a ser detalhado.
Brooks é um assumido manipulador de sentimentos, que em seus melhores momentos expõe, ainda que sutilmente, ao espectador a difícil equação entre o riso e a lágrima. Em Espanglês, por exemplo, Brooks arranca risadas ao mostrar, logo no início, a incapacidade da empregada mexicana de segurar o pranto diante da filha. Seu comportamento lembra muito o da personagem vivida por Holly Hunter em Nos Bastidores da Notícia, uma jornalista viciada em trabalho cuja auto-suficiência se manifesta até na hora de reprimir as crises de choro. Mas a obsessão pelo autocontrole, tão comum aos americanos, passou de comentário ligeiro a preocupação central do cineasta naquele que é o seu melhor filme, Melhor Impossível, com Jack Nicholson no papel de um maníaco compulsivo. Em Espanglês, um verdadeiro coquetel molotov de neuroses explode na personagem da dondoca vivida pela ótima Téa Leoni. É de sua desordem emocional e afetiva que o filme tira suas conclusões sobre as tensões entre maridos e esposas, patrões e empregados, pais e filhos.
O evidente conflito social rende menos do que as observações aparentemente despretensiosas sobre a loucura e a histeria que rondam uma família composta, entre outros, por uma avó alcoólatra e um famoso chef de cuisine, pesonagem que melhor projeta as obsessões de Brooks na busca do tom perfeito entre o melodrama e a comédia. É o gênio da culinária quem conclui que a cotação ideal para um restaurante não seria nem três nem quatro estrelas, mas sim três estrelas e meia. Assim como o chef, o diretor angustia-se na busca do tom perfeito, do roteiro capaz de expressar o hibridismo contido já no título de Espanglês. Como um seriado de tevê, o filme acerta nas partes, mas erra no conjunto. No máximo, dá um bom piloto.
# ESPANGLÊS (Spanglish)
EUA, 2004
Direção e roteiro: JAMES L. BROOKS
Fotografia: JOHN SEALE
Montagem: RICHARD MARKS, TIA NOLAN
Música: HANS ZIMMER
Elenco: ADAM SANDLER, TÉA LEONI, PAZ VEJA, CLORIS LEACHMAN
Duração: 130 minutos
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