Críticas


9 CANÇÕES

De: MICHAEL WINTERBOTTOM
Com: KIERAN O`BRIEN, MARGO STILLEY
07.07.2005
Por Marcelo Janot
SEXO, TÉDIO E ROCK AND ROLL

Com o consumo de drogas banalizado pelo cinema contemporâneo, restam o sexo e o rock and roll como opção para os cineastas que ainda querem chocar platéias se baseando na santíssima trindade da rebeldia. É isso que tenta fazer o diretor britânico Michael Winterbottom em 9 Canções. Com pouco mais de uma hora de duração, o filme praticamente se limita a intercalar cenas de sexo explícito protagonizadas por um jovem casal com performances de guitar bands britânicas. Sai-se do cinema com a certeza de que não há nada mais broxante do que o rock inglês atual, e que já não se filma sacanagem como antigamente.



A história, narrada em flashback pelo homem do casal, um geólogo inglês em expedição pela Antártida, pouco explica sobre seu relacionamento de um ano com uma estudante americana. Afinal, muito sexo e pouco diálogo parece a melhor forma encontrada pelo diretor-roteirista para retratar um pouco do que são as relações afetivas no mundo de hoje e, de quebra, fazer um filme incomum, em que uma suposta despretensão não disfarça seu desejo de tentar gerar um burburinho que o coloque no patamar “cult”.



Depois de ganhar experiência no terreno do rock com o esperto A Festa Nunca Termina (24 Hour Party People) e de cometer a bobagem apocalíptica Código 46, Winterbottom mostrou que transita bem pelo lado documental, mas beira a picaretagem quando tenta chamar a atenção sendo diferente. Nesse caso, “ser diferente” significa causar estranheza alternando uma cena de sexo com outra de uma banda tocando, sem que esta tenha qualquer ligação com a anterior e função na trama. Tudo bem: o casal se conheceu num show de rock. E no momento em que brigam, um deles vai sozinho ao concerto. São duas cenas. Muito pouco para aguentar performances inteiras de Elbow, Von Bondies e até dos hypezinhos Franz Ferdinand. Para piorar, as letras, traduzidas pela legendagem, beiram a indigência.



Não deixa de ser uma ironia que os melhores momentos musicais do filme sejam proporcionados pelo belo e melancólico piano de Michael Nyman, embalando as cenas de sexo filmadas com câmera digital na mão para parecerem ainda mais naturais e mais “moderninhas”. É dentro dessa suposta modernidade (em que por pouco não se depara com uma infeliz metáfora da geleira derretida simbolizando o fim da relação) que Winterbottom vem tentando arregimentar seu público, supostamente pertencente a um mundinho em que falar é o de menos. Haja nostalgia.



# 9 CANÇÕES (9 SONGS)

Inglaterra, 2004

Direção e Roteiro: MICHAEL WINTERBOTTOM

Produção: MICHAEL WINTERBOTTOM, ANDREW EATON

Fotografia: MARCEL ZYSKIND

Montagem: MICHAEL WINTERBOTTOM, MAT WHITECROSS

Elenco: KIERAN O`BRIEN, MARGO STILLEY

Duração: 69 min

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