Críticas


CAMA DE GATO

De: ALEXANDRE STOCKLER
Com: CAIO BLAT, RODRIGO BOLZAN, CAINAN BALADEZ, RENNATA AIROLDI, CLAUDIA SCHAPIRA
15.08.2005
Por Daniel Schenker
PULSANTE MAS INDEFINIDO

Movido pela “Tentativa de Realizar Algo Urgente e Minimamente Audacioso” (lema sintetizado na sigla “Trauma”), o cineasta Alexandre Stockler fez de Cama de Gato um filme que joga excessivamente para a platéia, no sentido de que se vale de apelos externos para conquistar a atenção. Mas não é um trabalho destituído por completo de ingredientes a serem considerados. O principal deles reside no desenho das personagens principais, três adolescentes abastados, aparentemente conscientes, em alguma medida, das suas equivocadas tentativas de preenchimento dos vazios internos, mas incapazes de marcar alguma coerência entre as reflexões embrionárias e as atitudes no mundo. Stockler parece fornecer outras alternativas para a construção dos protagonistas. É possível que eles não sejam portadores de um conhecimento verdadeiro sobre si mesmos, mas, diferente disso, tenham se viciado num certo tipo de discurso que, por ser postiço, justifica o descolamento em relação às próprias ações.



Nada é muito fechado em Cama de Gato , menos por um desejo do cineasta em deixar espaço para o espectador exercer sua autoria do que pela considerável distância de um ponto de amadurecimento. Determinadas opções batem na tela sem o devido embasamento, como a onipresença da câmera. Não só a câmera física, desestabilizada, que acompanha as personagens, mas também as diversas citações ao longo da projeção (por exemplo, as cenas vistas pelo público na tela do computador e via uma câmera instalada num elevador). Numa passagem, Stocker coloca os três amigos assistindo à própria história num cinema. Quando a projeção é interrompida, eles externam seu desagrado pela inverossimilhança do que bate na tela e vão embora, evocando, possivelmente, o não-comprometimento com suas histórias pessoais.



Há, é certo, seqüências bastante inverossímeis em Cama de Gato (aquela em que as personagens alcançam descontração com dois supostos cadáveres na mala do carro, bem como os instantes em que ligam para os pais). Até certo ponto, Stocker brinca com a verossimilhança e com a ausência dela ao fazer alusão ao thriller americano, referência dos jovens de seu filme que, à medida que a história avança, parecem mais determinados em não deixar furos do que propriamente se mostram em pânico frente à gravidade dos acontecimentos. Da ligação com o documental – expressa por um certo caráter de denúncia de uma geração perdida e por depoimentos recolhidos na rua com resultado bastante repetitivo –, o cineasta migra para a comédia de erros, mergulhando no campo da ficção personagens que transitam da total inconseqüência para a personalidade tão-somente desastrada. Os contrastes também estão ali para sublinhar o momento em que a juventude é colocada diante do definitivo e, em contrapartida, do reversível na vida. Nem por isso, porém, deixam de revelar a natureza de um filme que tenta abraçar variadas vertentes sem desenvolvê-las a contento.



Engajados no projeto, os atores alcançam a naturalidade pretendida (em especial, Rodrigo Bolzan, vencedor do prêmio de ator coadjuvante no Festival de Brasília), realçada pelas tomadas noturnas das ruas de São Paulo.



# CAMA DE GATO

Brasil, 2002

Direção e Roteiro: ALEXANDRE STOCKLER

Fotografia: MURILO AZEVEDO e CHARLY SPINELLI

Figurino: TRAUMA

Edição: DOCA CORBETT

Elenco: CAIO BLAT, RODRIGO BOLZAN, CAINAN BALADEZ, RENNATA AIROLDI, CLAUDIA SCHAPIRA

Duração: 92 minutos

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