DVD/Blu-ray


O CHAPLIN QUE NINGUÉM VIU

De: DAVID GILL E KEVIN BROWNLOW
20.09.2016
Por Marcelo Janot
Ótima minissérie britânica traz cenas inéditas e material de bastidores

O brasileiro não tem do que reclamar quando o assunto é Charles Chaplin. Item obrigatório na coleção de qualquer cinéfilo, sua obra completa, remasterizada pela produtora francesa MK2, havia sido lançada em DVD na década passada pela Warner Video, saiu de catálogo, mas voltou às lojas pela Versátil em uma única caixa com 18 discos recheados de extras, e segue à venda.

A essa coleção imperdível se junta agora O CHAPLIN QUE NINGUÉM VIU, minissérie em três episódios de 52 minutos produzida para a TV britânica em 1983, que só havia sido lançada no Brasil em VHS nos anos 80. A caprichada edição em DVD da distribuidora Obras-Primas do Cinema vem numa embalagem bacana que inclui um pôster e dois cards. Mas o filé mignon está mesmo nos quase 200 minutos de conteúdo.

A série é dirigida por Kevin Brownlow e David Gill, historiadores e diretores responsáveis por documentários sobre Buster Keaton, Griffith e outros nomes importantes da história do cinema. Além de um extenso trabalho de arqueologia no resgate de imagens raras, eles oferecem ao espectador uma visão didática e analítica bastante rica sobre Chaplin. E, de quebra, a narração é de James Mason, o professor Humbert de “Lolita”.

O primeiro episódio de “O Chaplin Que Ninguém Viu” mostra os curtas do inicio de sua carreira, no período em que esteve contratado pela Mutual Films, em 1916. Chamam a atenção o seu perfeccionismo e a insistência em refilmar a mesma cena inúmeras vezes até chegar ao ideal – mesmo que ela no fim das contas nunca fosse usada. Chaplin filmava os próprios ensaios, coisa rara na época, sobretudo pela impressionante quantidade de negativo que era desperdiçada. Para um curta de 20 minutos ele usa mais negativo, por exemplo, que as 3 horas de “Intolerância”, de Griffith. O episódio, além de cenas raras de Chaplin por detrás das câmeras, também mostra sua criatividade para driblar as limitações técnicas e dar mais realismo às gags – como uma cena filmada de trás pra frente dando a entender que ele escapou por pouco de ser atingido por um machado.

No segundo episódio, atores que trabalharam com Chaplin dão seus depoimentos, de Jackie Coogan, de “O Garoto” (que morreu um ano depois de a série ser lançada) a Virginia Cherrill, que lembra as conturbadas filmagens de “Luzes da Cidade”, em que interpretava a vendedora de flores cega. Ela chegou a ser demitida por Chaplin, que teve que voltar atrás por motivos contratuais. Nesse meio tempo, ele chegou a ensaiar as cenas de Cherrill com a atriz Georgia Hale, de “Em Busca do Ouro”, com quem pretendia refazer todo o filme. Esses raríssimos takes do ensaio de Hale estão presentes em “O Chaplin Que Ninguém Viu”.

O terceiro episódio é praticamente todo composto de sequências que nunca apareceram em seus filmes. Algumas, do início de sua carreira, realizadas para curtas ou fruto de meros testes ou brincadeiras com a câmera, acabaram sendo refilmadas e inseridas em suas obras-primas, como a cena do malabarismo com o globo terrestre em “O Grande Ditador”. Entre as preciosidades, estão cenas de um curta, nunca lançado, que mostram os bastidores de Chaplin em seu estúdio. Traz desde os funcionários trabalhando às imitações que ele fazia de Carlitos para visitantes ilustres, como o Príncipe da Dinamarca. E tem também a única cena não utilizada que restou de “Tempos Modernos”, assim como uma brilhante sequência pensada para ser a abertura de “Luzes da Cidade”, com Carlitos às voltas por longos minutos com um pedaço de madeira preso na grade de um bueiro.

O DVD traz ainda como extra uma valiosa entrevista de meia hora com o diretor Kevin Brownlow, bem esclarecedora, contando detalhes sobre o processo de negociação de liberação do material utilizado e detalhando mais o método de trabalho de Chaplin.

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