Críticas


PONTO FINAL – MATCH POINT

De: WOODY ALLEN
Com: JONATHAN RHYS MEYERS, SCARLETT JOHANSSON, EMILY MORTIMER
24.02.2006
Por Luciano Trigo
A IMPOSSÍVEL CONCILIAÇÃO ENTRE O CÁLCULO E A PAIXÃO

Ponto final é o primeiro filme ambicioso de Woody Allen desde Celebridades. Só essa retomada da vertente "séria" de seu trabalho já merece ser comemorada, depois da seqüência de comédias despretensiosas, leves e inofensivas que ele dirigiu desde que se associou à Dreamworks de Steven Spielberg - como Trapaceiros, O escorpião de Jade e, sobretudo, Igual a tudo na vida, que explicita, já na escolha de Jason Biggs para o papel principal, a tentativa de se enquadrar o diretor num formato padronizado de comédia romântica de sucesso comercial.



Não que Ponto final não tenha problemas. Woody Allen parece preso a uma estrutura de valores, convenções sociais e códigos afetivos que já está obsoleta há uns 20 anos: seus personagens ignoram a crescente maleabilidade moral que rege os relacionamentos em tempos de sexo casual e sedução como moeda corrente. Conceitos como fidelidade, adultério e casamento já não são os mesmos de quando George Stevens dirigiu Um lugar ao Sol, com Elizabeth Taylor e Montgomery Clift. Naquele tempo era perfeitamente verossímil que adultérios levassem a assassinatos. Hoje é mais difícil, mesmo no círculo fechado e conservador em que transitam os protagonistas de Ponto final.



Não é a primeira vez, aliás, que Woody Allen desenvolve uma reflexão moral a partir de uma situação de adultério que leva ao transtorno mental e ao crime: este também é o eixo de Crimes e pecados, no qual o medo de ver seu casamento destruído leva um médico bem-sucedido a encomendar o assassinato da amante problemática. Em Ponto final, Allen introduz o ingrediente da ascensão social: o professor de tênis de origem humilde, mas ambicioso, ingressa numa família milionária via casamento, mas se apaixona pela sedutora noiva do cunhado, com quem acaba tendo um caso.



A interpretação do trio de atores é magistral. Jonathan Rhys Meyers é convincente tanto na frieza carinhosa com que trata a esposa quanto na paixão pela amante. Emily Mortimer encarna com perfeição a jovem bem-nascida e polida, feita para o casamento. Scarlett Johansson faz sua personagem se modificar ao longo do filme com o grau certo de sutileza: da sugestão do desequilíbrio emocional ligado ao alcoolismo, da consciência do fracasso de sua carreira como atriz e da vocação para a sedução que condena as mulheres lindas e sem talento, na primeira metade do filme ao completo descontrole na segunda, que a leva a mudar até fisicamente, o que mostra que Johansson vem amadurecendo a cada papel.



A capacidade de transformar um enredo comum num grande filme é uma das marcas que distinguem os grandes diretores. No plano do enredo, Ponto final não é assim tão diferente do Atração fatal, no fim das contas. Mas Woody Allen consegue transformar uma história previsível num grande painel das relações humanas. O caráter trágico de seus personagens - sublinhado pelas árias de óperas da trilha sonora - reside menos na questão da sorte que determina o seu sucesso ou o seu fracasso, como sugere o título, do que no fato de que cada um deles - como cada um de nós - é atravessado por motivações e impulsos éticos, sexuais, afetivos e sociais conflitantes. A maneira como cada um supera as contingências de seu destino, os limites até onde eles estão dispostos a ir para realizarem seus objetivos e a impossível conciliação entre os cálculos e as paixões são os verdadeiros temas deste filme altamente recomendável.



# PONTO FINAL – MATCH POINT (MATCH POINT)

Inglaterra/EUA/Luxemburgo, 2005

Direção e Roteiro: WOODY ALLEN

Fotografia: REMI ADEFARASIN

Montagem: ALISA LEPSELTER

Elenco: JONATHAN RHYS MEYERS, SCARLETT JOHANSSON, EMILY MORTIMER, MATTHEW GOODE, BRIAN COX, PENELOPE WILTON

Duração: 124 minutos

Site oficial: clique aqui

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