Críticas


MICHAEL HANEKE: MEIN LEBEN

De: GERO VON BOEHM, FELIX VON BOEHM
Com: MICHAEL HANEKE, JULIETTE BINOCHE, ISABELLE HUPPERT
16.07.2020
Por Luiz Baez
Um documentário de pouca coesão, mas relativo valor introdutório

Nove anos depois de Yves Montmayeur filmar Haneke nos bastidores de Código desconhecido (Code inconnu, 2000) e quatro após Eva Testor e Nina Kusturica o acompanharem no ínterim entre O tempo do lobo (Le temps du loup, 2003) e Caché (2005), o canal franco-germânico arte encomendou ao conhecido jornalista Gero von Boehm e a seu filho, Felix, o documentário Michael Haneke: Mein Leben (2009), parte de uma série de biografias sobre personalidades alemãs. Se Filming Haneke, curta-metragem de Montmayeur, se centrava no uso dos planos-sequência - sobretudo naquele filmado no Boulevard Saint-Germain -, e 24 verdades por segundo, média-metragem de Testor e Kusturica, pesquisava a relação entre cinema e verdade, um escopo mais amplo parece preocupar os von Boehm.

De natureza mais jornalística, a produção transpassa o contexto da estreia de A fita branca (Das weiße Band, 2009) no Festival de Cannes e de sua expectativa de premiações para ensaiar um olhar retrospectivo sobre a obra de Haneke. Para tanto, convoca atrizes e atores - em especial as recorrentes Juliette Binoche, Isabelle Huppert e Susanne Lothar -, além do diretor e de sua esposa, Susi, como talking heads (“cabeças falantes”) entre trechos dispersos de longas-metragens e fotos de arquivos familiares. Seria desnecessário escrever que cinquenta minutos não bastam para esgotar a ampla gama de temas discorridos no decorrer de vinte anos de cinema do realizador austríaco, não fosse exatamente isso a que se propõe Mein Leben - em alemão, “minha vida”. Além de uma investigação mais localizada, Filming Haneke se destacava por uma processualidade indicada desde o título - Montmayeur filmava Haneke enquanto Haneke filmava Código desconhecido. 24 verdades por segundo, por sua vez, fracassava sempre que tentava extrair ideias sobre o cineasta a partir de suas falas - incorporando, em última instância, a incompletude característica de sua obra. Dada a estrutura mais convencional, Michael Haneke: Mein Leben caminha em outra direção.

Paradoxalmente, talvez a própria natureza jornalística justifique os momentos mais interessantes do média-metragem. Exímio entrevistador, Georg von Boehm extrai de seu protagonista depoimentos - ainda que não originais - mais profundos e sinceros. Haneke fala, por exemplo, sobre sua tendência à melancolia, considerando a felicidade antes um estado momentâneo do que um atributo do ser. Nesse sentido, como já declarou alhures, sua atividade criadora funciona terapeuticamente para melhor lidar com seus medos. As relações com as outras personagens também se desenvolvem com clareza nos testemunhos, embora a montagem lhes reserve pouca atenção. Juliette Binoche conta sobre seu convite a Michael Haneke para filmar na França após se impressionar com Violência gratuita (Funny Games, 1997), enquanto Susi - primeira leitora dos roteiros - fala sobre a troca de experiências e visões de mundo entre si e o marido. Esses pequenos e valiosos momentos, por fim, destoam de um todo de pouca coesão, mas relativo valor biográfico e introdutório.

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